subsiste
a sua imagem ao silêncio, ao tempo, à memória, aos domingos e feriados. queria
entender melhor o que passa, o que há fora do corpo que molda os sentidos. esse
estado onde nada mais cabe, onde nada mais entra, onde respirar é tudo. então
você se despede. e ela se pergunta não a que? quais dentre elas? desiste? o que
se finda longe está do que te alcança. e nem ela poderia definir o que seria o
percurso se. as possibilidades sempre serão mais ricas do que as realidades e
era lá onde ela se encontrava quando o tinha - ainda dentro de uma
possibilidade. porque nunca está no fato. o fato existe? existiu no amanhecer
de hoje? o não é um fato porque fere a multiplicidade das possibilidades
almejadas. uma delas recebe o corte e o bordado inteiro é desfeito. exploradora
a descobrir ruínas numa cidade abandonada, ela derruba suas colunas, atravessa
suas muralhas e desvela inscrições na pele antes inelegíveis, tesouros prontos
a serem desterrados. lapsos, chistes, sintomas, defesas e o mais intrigante
sonho. você clamou por ela na noite. você a desejou em silêncio. você
fotografou o seu corpo nu e agora se refugia distante. a cura não reside numa
explosão dramática de percepções. aí reside a resistência. a cura está em outro
lugar. tato, paciência e absoluta (ausência de) solidez emocional. tudo grão
para o seu moinho.
ainda
respira. e respirar é tudo?
hoje
teve uma recaída e se trancou no quarto
e
jogou a chave pela janela para não adentrar
a
reunião
por
mais um dia,
e
outra ainda, não.
ouve
ry cooder e dele
pressente cristais
numa
estrada camada de horizontes
mais
alguns anos e
amanhecerá
acorde
nota
dissonante
música
ela
ainda
te amo
vem.
beija-me.
entre
todos os bichos
poderás
ser o meu eleito.
e
então, com sorte, as pedras falarão.
- sigo limpando chaminés
mas
eles são fundos
soubesse
o que fazer com as flores estriadas as mãos enrugadas o sangue caindo outono,
soubesse o faria alegria dispersa de carnaval
é
natal
é
são joão
nos
teus olhos
acesos
num
motel sujo na lapa
vida
na tua língua