quinta-feira, 31 de dezembro de 2009



Amanhã serei eu mesma. Hoje não. Hoje ainda sou outra. Mas amanhã hei de me transformar em mim, hei de me transmutar no que devo vir a ser, hei de brotar deste tumulto. Amanhã sim, hoje, ainda, um pouco mais de tempo para o que deixarei de ser quando o passado houver me feito renascer. Amanhã, tempo novo, terei forças para a renovação, por isso usarei branco depois de ter pulado o segundo revelador, que me fará adentrar o meu verdadeiro eu. Amanhã, vestida de branco, me lembrarei remotamente desta última tarde deste estado de ser em que sentada no sofá da sala, de ropão de banho amarelo e sem grande encantamento, me punha a refletir qual o sentido do tempo. Amanhã, sim. Um amanhã despontando já no entardecer deste fim de luz, desta cidade água, desta cidade deserto. Inspiradores água e deserto! Amanhã prometo tornar-me menos ácida, menos nostálgica, menos febril. Hoje ainda, não. Hoje ainda permito-me contemplar a chuva (que não pára de cair nesta cidade). Amanhã me vestirei de branco, mas hoje ainda, me enfeitarei de vermelho e laço no cabelo, deixando pulsar o calor que a chuva não seca. Amanhã, sim, prometo. Serei melhor. Hoje, ainda, continuarei sendo apenas uma pequena que escreve. Tenho pouco tempo para ainda permitir-me o estranhamento. Permita-me, por favor, permanecer assim, meio perdida, neste resto de passado, nestas últimas horas que serão por todos, há pouco, descartadas. E se por ventura esta oração no amanhã se confirmar quando o ano novo despontar, serei outra. [Mas serei assim, ainda assim, eu mesma?]



segunda-feira, 21 de dezembro de 2009




losers





sábado, 19 de dezembro de 2009




hoje o dia só existe para ser escrito. se pudesse, o faria até o infinito, até desfazê-lo integralmente, até formá-lo, átomo por átomo, imagem. escrevo em minha pele o desejo; em meus panos, pudores; em meu pescoço, minhas forcas. e essa música ... queria poder te tocar mais, porém algo de pudor impõe limites. não aprendi a ser melhor do que isso. estranhas me parecem as vozes que ouço. há uma infinidade de acontecimentos possíveis para a noite - um café, um bar, um encontro, um filme, um livro, ar da rua chuvosa, mas sucumbo. ler não melhora nada, ao contrário, me afunda mais na cachoeira de mim. não tenho fundo. posso chegar a perder-me enquanto juro percorrer a busca. encontrarei sempre retiscências. todos os personagens que me tomam a voz parecem uma extensão, parecem uma alusão às minhas infinitas formas de materializar-me. olho pra você e me vejo mais do que posso ao estar diante de um espelho. sou mais eu em você do que em mim. sou mais de mim quando te ouço. viver não é um consolo para o infinito, viver é o absurdo da dúvida, da incerteza, da possibilidade de perceber-se. nada há pra dizer e quanto mais percorro esta certeza, mais viceral se torna a literatura. a ciência se torna um exercício da dialética enquanto a literatura, uma oração. o verão chegou com chuva. as águas me ferem. é difícil se manter unidade quando a cidade inteira se molha. não é possível ser outra coisa quando os dias parecem inundados na chuva. não consigo permanecer lúcida na chuva. me recolho. custa-me muito fingir-me seca. estou em vias do absurdo.







"eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. provavelmente a minha própria vida. viver é uma espécie de loucura que a morte faz. eu escrevo à meia noite porque sou escuro." (clarice lispector)






hoje o dia poderia ter nascido neutro. sonhei com guerra e literatura. um tiro me acertou as costas. acordei. havia uma estante de livros no breu. reconheci clarice, achada no sebo. adorável mundo novo, drummond, balzac. todos numa estante, 5,00 cada. feliz cidade. o ano parece chegar ao fim, mais uma vez, para os humanos. luzes acesas enfeitam e clareiam a madrugada das ruas desertas. os homens gostam de luzes nos rituais. o que fazer com o natal? temo escrever as verdadeiras letras, aquelas que poderiam traduzir-me e refletir a imensidão do caos que habita meu limitado corpo. temo te afastar de mim, com minha literatura de nostalgias. por dentro o sangue percorre o infinito dos segundos enquanto permaneço indagação, sertão. quando o eco encontra espelho, quando o eco encontra palavra, quando o eco encontra resposta, dialética, contraponto, é o silêncio que me molda. a busca por afetividade é apenas a ilusão do reconhecimento. tú és a minha afirmação, a minha exclamação. balanço-me de um lado ao outro, o vento como companhia singela e suave, ah, mas ter um corpo debaixo do cobertor, um corpo para abrigar o outro que tem pesadelos... tenho tido muitos pesadelos. de diversas formas e gêneros. a diversidade traduz os sonhos lúcidos. quando eu acordo, estrago tudo. bicho, bicho. bicho. o que é o universo? olho os soldados e não têm rostos, apenas marcas de lutas e preconceitos. as instituições são o reflexo das coletividades. me posto no centro do meu tapete redondo. não consigo mais rezar. não há mais quem possa me salvar, mas sei: o sentido é vasto e de tão amplo, não cabe no amém. as pessoas se assustam com as palavras inventadas para nomear as coisas. algumas junções de letras causam asco. outras, regojizo. as coisas não são melhores ou piores devido as palavras que as nomeiam, mas ao sentido dado, à sensação posta no enfrentamento da sua perceção. sou esponja. absorvo o mundo e me moldo. me deformo. sou eu mesma? ou o que fizeram de mim? tenho profundo prazer em escrever. profundo, profano, sagrado. escrever é rezar. rezar é gozar. gozar é profundo ato de escrever. não sou o meu ato, mas o reflexo do desejo. não sou o que vejo, mas o que espero ser visto, ou o que vejo como irreal disposto entre o olhar e o visto. por favor, permita-me chorar. só mais essa vez, permita-me. rebenta em mim o pranto, rebenta em mim o corpo, rebenta em mim o jorro. sou mais água do que o oceano o consegue ser. cuido da terra e a terra precisa de água doce para fazer brotar o oxigênio das plantas, para te fazer respirar. eu sou oxigênio. morrerei dentro de algum tempo. morrer parece insano. não ser parece suicídio. optei por desconstruir-me com a morte. não permaneço. me desfaço no universo. por isso pareço insana. por isso permaneço signo. a espera se finda em loucura. eu escrevo no escuro porque sou noite. porém agora é entardecer de chuva e trovão. um raio cinza corta o céu, cheio de luz. enquanto isso um menino tenta captar o instante da chuva em minha janela.






sábado, 12 de dezembro de 2009


otra vez despierto al amanecer y miro el cielo tomarse poco a poco por nubes de color negro, como un hongo oculto entre las hojas secas en una playa desierta. por encima de las nubes me parece que sea más tranquilo que sobre la tierra, pero todavía no aprendí a volar… las nubes, como una película refleja el deslumbramiento de mis sueños - sucede en mi vida el eterno retorno de Nietzsche... del mismo modo que hay ciclos de las mareas, transcurre las emociones humanas… los momentos de dolor siguen ciertas leyes y ritmos, obedecen a un cierto número, tal vez en mi vida es un ciclo de 21, 22 y cuándo el día fatal llega, una sombra, como esta nube negro que ahora lleva puesto el cielo, cubre el mundo y toda felicidad suena a falso. pero entre las piedras nacen pequeñas flores y también los ciclos de serenidad ven cuando la tormenta pase… saber leer la sucesión de las olas me hace consciente pero no convierte menos intensas las sensaciones. sin embargo, los sentimientos no son un reflejo del mundo, pero de yo mismo y soy parte del mundo... entonces lo que siento es también una perforación de la unidad cósmica o una fracción del entero... hoy estoy en transición de uno estado para otro. el amanecer parece suave, ya que una línea recta del electrocardiograma... una pausa, uno suspiro, uno gozo…


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


minha pequena musa, marguerite.





queria poder negar toda e qualquer metafísica, mas uma flor, um sorriso, uma mensagem, extrapolam a carne. hoje tive um dia ruim. ressaca de feriado bom, prostrada em lençois de chuvas e películas. difícil acabar a tarde. entro num sebo ao meio dia, para encantar o dia feio. caminho direto na direção de uma certa estante e colho um livro qualquer, de olhos fechados, como quem elege um amigo oculto. Herman Hesse, Caminhada, pula em minhas mãos. sorrio, óbvio. me lembro de guarapari e os encontros súbitos, bons, nas estantes com cheiro de poeira e mofo. o cheiro das páginas amarelas, as traças que as habitam, as cartas nelas esquecidas, os velhinhos exóticos que as guardam.... morrerei amando percorrer as estantes de literatura e filosofia... e achar, sempre achar, uma nova obra de hesse (quantos livros terá ele publicado?), marguerite (amada, amiga, fiel escritora das minhas cavernas - compro tudo o que acho dela, mesmo aquelas obras já companheiras das minhas gavetas, para presentear amigos, um belo presente sempre). enquanto percorro a fila do elevador, uma oração: Caminhada - dirão que blasfemo!, perdoem-me, hoje estou assim, querendo acreditar que toda a música e toda a poesia, e o vinho nosso de cada dia; essa melancolia que faz do meu corpo sua moradia constante, já ali presente e mesmo agora, com um amor-menino, mesmo agora... este nó no peito... não sei o que fazer com tanta luz e essa infinita magia que nasce, cresce e morre em cada dia, em cada árvore, em cada lua, em cada mendigo nas esquinas, acrobata dos sinais, menino morto nos guetos. não sei o que fazer com as dezenas de reuniões. enquanto um céu azul convida mais de mim e de ti na chuva, nos becos, nas escadarias e desertos da madrugada. que haja tempo para os reencontros, as novas vivências, o degustar de todas as cores e a ausência delas, o mundo em sépia, em preto em branco, molhado e seco. não sei o que fazer com todo o afeto hospedeiro dos corpos que nos circundam. não sei entender a miséria, a desigualdade e o ódio. a vida me assusta em sua mágica cotidiana. e o nó aperta o peito. como numa máquina registradora, tento reter os dias em letras, signos proféticos que me elegeram. mesmo as dores, tento reter. páginas virtuais de tumultos, que me concebem e encerram. não sei ser de outra forma. tumulto leve e calmo. cheiro de café. já passa da meia noite, mas a mente não quer se fazer dormir. tem dia que a madrugada, com esse céu apocalíptico, cinza e nublado, me elege como deusa - impossível fechar os olhos: sou guardiã da noite.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009


 
 
 "Quando o Homem nasce, é fraco e flexível,
Quando morre, é duro e insensível
Quando uma árvore cresce, é tenra e pliável
Mas, quando seca e dura, morre
Dureza e força são os companheiros da morte.
A flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser.
Por isso, quem endurece, nunca vencerá."
(Stalker, filme de Tarkovsky)



 

sábado, 5 de dezembro de 2009

o dia espia a mulher, ela não quer ser vista, mas ainda existe. o amor aparece em sonhos e não tem identidade, está em toda parte, assume qualquer corpo, é apenas a projeção de um sentimento bom e calmo de saudade e procura. onde você está, que não se encontra? percorre toda a ilha, em sonhos e ele a olha com olhos de querer. não pensou que pudesse ser você em cenário idílico, mas era e tinha desejo na boca e tinha silêncio no dizer e se escondia nos becos da vila. o amor é como um bonde: passa cheio de corpos brancos e pretos. e não cabe em um só membro, se estende ao teu, te abriga, te acolhe, te saúda, te quer nu, mas a fronte está coberta de névoa – não é possível ter sido aquele encontro de visões verdade apenas para um... o homem surge num ônibus, a caminho de casa e olha para a mulher no meio do caminho e na aterrissagem. e depois adentra a sua casa – terá sido convidado? e agora a visita freqüentemente e silencioso. não conversa nunca. os óculos a impedem de ver, ou a fazem ver além, lá onde disseram-lhe, deve estar, lá onde um certo alguém a mantém, enquanto degusta seu chá, distante, numa terra fria. todos os amores se escondem no silêncio, mas às vezes deixam escapar uma lágrima, às vezes visitam a insensatez, às vezes se sentam sobre a fogueira e soletram uivos de bicho. todo amor tenta ser sério, ser forte, ser simples, mas esconde a verdadeira face e disfarça o brilho da artéria mãe. o peito está fraco. ela queria poder negar certa voz interior, mas esta manhã cinza, esses micro-grãos de águas liquidificam a janela, o dia, tornam suas pernas bambas e espelham a alma feito terra molhada, feito lama. que diabo! a mulher pode se derreter. but if you never try, you never know!.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009



Soneto de amor imperfeito ou
O que terá sido feito do amor

Depois de tantos passos percorridos
De ti distante em tempos e espaços
Hei de confessar faltar abraços
Onde possam os afetos ser derretidos
É um acalanto lembrar-me que tive
Os teus braços, o teu canto
E já não há lugar de pranto
- nada levar, nada deixar de onde estive
Nenhuma lembrança, nenhuma esperança
Nada cabe como herança
Deste amor que projetei.
Nem alma, nem canto, nem beijos
Deste amor devolver hei
Pois deles serão feitos os versos
que porventura criarei.


domingo, 29 de novembro de 2009





a garganta arranha
= a palavra não dita vira pus.
um menino pode morrer,
dois meninos também podem,
mas um elefante incomoda muita gente.
o silêncio reza uma ladainha por mais silêncio
e os olhos do outro são o seu próprio,
se te olham quando você os vê.
os olhos do outro lado da linha,
a palavra calvário,
a palavra bomba,
a palavra mórbida
- a palavra tem o dom da seca,
a palavra poder.
por isso o silêncio reza uma ladainha.
enquanto os homens exercem seus podres poderes,



sábado, 28 de novembro de 2009




se algum dia você qualquer coisa assim
um movimento, um verbo, uma valsa,
uma palavra errada,
quase nada
qualquer coisa,
se algum dia você assim,
Hein?
nenhuma importância para a polis, etc e tal (?)
o futuro do mundo, a preservação do planeta, a floresta amazônica... (mentira!)
não é você quem vem, nem sou eu quem vai,
são os ponteiros que não cessam de correr, nem as estrelas de cair
- uma acaba de tombar do caos, obscena. (menos luz para o infinito)
o sono começa a embaralhar toda a órbita
e amanhã talvez já não exista tempo.
(será tão difícil entender?)
o trânsito silencia no meio da zero hora – por favor,
não diga mais nunca mais nada. dor de cabeça. hora do chá.



enquanto os homens exercem seus podres poderes,
a garganta arranha
= a palavra não dita vira pus.
um menino pode morrer,
dois meninos também podem
mas um elefante incomoda muita gente.

o silêncio reza uma ladainha por mais silêncio

a palavra do outro lado da linha,
a palavra calvário,
a palavra bomba,
a palavra mórbida,
tem o dom da seca,
- a palavra poder.
por isso o silêncio não se cansa:
reza outra ladainha








não temo as imagens.
temo a falta de linguagem,
o silêncio mudo.

não temo o silêncio ruptura,
o silêncio olhar,.
o silêncio solidão.

as palavras,
melhor tê-las como âncoras,
não como verdades.

na noite,
ditas ao sabor do vinho,
docemente pervertem,
corrompem.

se guardadas na pupila,
apenas,
potencialidades...




sábado, 21 de novembro de 2009






terá sido você? ou terei sido eu?
e quem dentre nós sobreviverá à amendoeira?
sinto saudade de viver no mar
eu, que não o vi nascer neste amanhecer.
tudo, além disso, tudo o que não coube e
talvez nunca caberá
me esvazia
sou assim mesmo, tumultuada,
às vezes verena,
às vezes inverno,
tal qual esta música de caetano,
que aperta o peito, arde, fere
apressa o dia de amanhã
e lembra qualquer coisa
que poderia ter sido
não foi e nunca será
e mesmo o que não será,
por ter sido foi é e
nunca mais nunca mais jamais.
tudo isso me enche de melancolia
oh, quão lindo, amor, a madrugada!
o mundo ora me encerra,
ora me esconde, ora me clarice,
ora me canoas, ora me alagoas,
sempre me virginia, sempre me emanuela.
não consigo compor um samba, nem uma bossa,
tenho mais o que fazer.
desculpe a correria,
mas antes de amanhã ainda é 22. 32.
eu só queria amor, amor e mais nada
(não, não... são os versos de caetano)
o piano está quieto, no canto esquerdo
não sei bem o que querer, salve jorge!
meu coração trincou,
não, eu não creio n’alma,
só na melancolia.
não reze por mim*
cante uma cantiga, toque uma melodia,
*mainha rezou uma missa
pra ver se me salva`lma
me deixe passar pelos dias, pelo mundo,
pelo cansaço das horas
- eu não sei amar direito, só amo torto,
só amo torto.
enquanto você aí,
de longe, me observa.
não quero linha reta,
- teias, uma mulher é sempre uma mulher,
assim como existe o escuro.
comecei o dia lendo pessoa,
ele nunca me consola, mais me desterra e
um dia acordo com os pés no teto,
mas você, não sei o que dizer
não sei, terra do nunca.

há um crescendo ao redor da rosa. fique.
o escritório está deserto.
drummond não mais trabalha nele.
só eu na burocracia,
até que a eternidade me hospede,
ou antes disso, uma película me alcance
(talvez eu venda sanduíche)
não tenha pena de mim, me dê asas
porque não cabe mais felicidade no mundo.
saudade de comer farinha
tudo o que der pra trazer, põe na mala
– carne seca também é bom
e uma idéia na cabeça.
drume negrita, drume
até mais tarde
[feliz completaños, f.]
não há trânsito na cama, desencana,
não tem funk na bahia.
sou preguiçosa,
debaixo do meu cobertor de lã,
mas hoje tá calor,
vou despir o verbo e adormecer.
antes, escovar os dentes!

domingo, 15 de novembro de 2009


reifico a idéia da madrugada e ela toma a forma de tempo. mas tempo não é matéria, é também invento. o tempo está do lado de lá do pingüim. gosto do pingüim encarnando o piegas e quebrando o gelo de uma geladeira politicamente correta, com imãs de gandhi e glauber. política e cinema são uma coisa só. dentro, alguns ovos e goiabada. as polpas estão congeladas, o que produzirá um suco cremoso. mas um escritor, digníssimo cortázar, deveria sofrer o privilégio de uma imaginação nas encruzilhadas lunares? não ouso uma volta ao caos em 80 verbos. essa nossa cumplicidade, meu caro leitor, é constrangedora! pois fique sabendo que não escrevo para que me compreendas, escrevo para que me hospede! falta casa pra abrigar meus espinhos e nem esta geladeira, com chaplin de bengala, me pertence. mesmo o lote que comprei, a prefeitura se nega a assinar. ó infinita grandeza, há túmulo depois da metafísica? raskólnikof, responda! o ser e o tempo o ser fora do tempo o ser nada sem o tempo. em novembro o tempo chega nos meus anos e faz-me percorrer os algarismos. numa fração qualquer de futuro só existirá a Pergunta Fundamental, o que requererá o guia dos mochileiros das galáxias. mas enquanto esta brisa da janela insiste em apalpar minha tez, permaneço mulher de balzac. às suas costas um paredão de cegos avista e avança. para eles, o instituto dos cegos. para você a glória. ok, ok, não digo coisa com coisa, já sei, já sei, mas desde que o verbo fez-se carne, não resta muito mais a fazer, apenas brincar de escorregador. meus companheiros hastearam bandeira. mas ela não é mais vermelha. e cantaram o hino nacional. veja bem meu bem: o brasil é bric!


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

chegou o dia. aquele dia, que parece mais um, de sol sobre o asfalto, a conduzir os passos para o trabalho, o olhar para o nada, os sonhos para o infinito. chegou o dia. pela janela nada induz que seja este o dia do futuro. falta apetite para tomar a estrada. o futuro, quando chegará? falta apetite para o peso dos verbos e a infindavel variedade de assuntos que precisamos opnar, debater, criticar e escrever. sim, escrever é um ato de tristeza e solidão. falar n~ao. (meus acentos se negam a contribuir com esta ret'orica falida). os dedos, com unhas pintadas de vermelho, navegam sobre as letras e acalmam o peito, indiferentes ao conjunto das palavras mas felizes por se verem trabalhar. os carros sobem a bahia e eu descê-la hei, em poucos minutos, na contra-mão da velocidade. (num barquinho imaginário). chegarei ao trabalho. e no trabalho a angústia que nos persegue: quantos meninos se matarão enquanto descansaremos no fim de semana? o mundo dos homens é o mundo das armas. em recife, no rio e aqui, bem perto de nós. na colômbia, em nova york, na somália ou no afeganistão. a morte define o silêncio e impede a pronúnica de uma nova poesia. a vida é mais simples em conceição do mato dentro. o sol torna mais branca a cortina da janela, mas não mais claras as idéias e menos frios os sentimentos. basta o sol para aquecer toda a reallity? o que você quer, emprestando tanta melodia ao mundo, infiel ao dicionário? o que você perde restrigindo a vida à soma do salário que recebe no quinto dia útil? o que você é resume-se ao que você faz? a realidade é bem maior do que a circularidade da terra, mas aqui mesmo no planeta água o homem empresta seu corpo ao fogo e tudo isso acontece independente de você, por que o que, ora bola, você poderia fazer, além de compor essas constrangedoras linhas? você espera que o futuro chegue, para te tirar do lugar. da fila do banco. da fila do desemprego. da fila da compra do ingresso para o show de chico. mercedes morreu. girassol morto, mas ainda de pé no centro do jardim. você olha o jardim, olha o girassol e teme que a morte se alastre às margaridas ao seu redor. a morte é contagiante. neste minuto um menino aprende a segurar uma arma. e o que você tem com isso? morar numa ilha talvez resolvesse todos os seus problemas, te afastasse dos seus pensamentos sobre o mundo. mas basta ler drummond para que o mundo caia sobre o seu colo.

domingo, 1 de novembro de 2009




la luz desciende de la casa, pero la pantalla blanca es suficiente para tocar los sueños, esos que sólo vienen cuando el cuerpo alcanza un estado de embriaguez, que no se logra con el vino, pero con la fiebre causada por el sentimiento de lluvia. en su cuarto, las primeras gotas de agua penetran sus poros. el olor de la lluvia ahoga la piel e deja el cuerpo húmido como las nubes. este cómodo sofá no es un sueño, pero una mediocre realidad. el mar no existe de este horizonte, pero montañas, en la noche invisibles, como también los seres que habitan toda la construcción - la mujer en el apartamento siguiente te hace pensar... ¿el mundo es el mismo para ella y para vosotros? mas tarde en su cuarto, un hombre o una mujer pueden hacer que te olvides de ti (con sus manos). tu no quieres pelear. no quieres. tu quieres escuchar hasta la voz del mar, pero el universo está lleno de gente que grita. el universo no puede caer. la vida es más grande que sus ojos y mucho mayor que su mar. mañana es un día de fiesta pero el hambre no elige día. el hambre de pan y vino, el hambre de sueños y amor. en días como este, el hambre es mayor porque las calles están desiertas. lo desierto para nosotros no tiene fin. no tiene fin el desierto. no tiene fin. y tu no sabes qué hacer con lo que no tiene fin.





sexta-feira, 30 de outubro de 2009


"Traga-me um copo d'água, tenho sede"

sábado, 24 de outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


e das sombras se fez o nó(s)...


domingo, 18 de outubro de 2009







 

"_ Eu me pergunto porque estou aqui neste lugar onde você escolheu nascer.

_ Escolhi?

_ Eu vim aqui para me separar de você, mas há coisas melhores para fazer. Eu vim para fazer barulho e é o silêncio que vence."



(La Pointe Courte, Agnès Varda)
[este filme guarda a beleza dos raros!]



segunda-feira, 12 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


el camino

e se não fosse a literatura?
transparência, talvez?

escondida no verbo
ou ela mesma verbo?

(ela = eu + v ou v = eu + c)
v=verbo, c=carne




PRIMEIRA POESIA – XOTE DA PALAVRA

Um bom tempo se perdeu
até que retornasse aqui,
como se houvesse rompido cosigo
negando o que pode existir de bom em si.

Um bom tempo
um bom tempo se perdeu

agora uma salsa preenche de musica o que escreve
mariposa de lindos colores
e uma tela de luz branca – olho de frente aos seus olhos
se estende como um tapete persa às suas mãos.

Enquanto seus pés dançam salsa
suas mãos desfilam com o vermelho estendido aos dedos
sangrando de negro a folha branca.

Enquanto seus pés dançam e desfilam
pés que não são pés
são mãos
são mãos,
como são dedos,
como são palavras
caminando por las calles



poesia 2. DO ENTENDIMENTO
Entendo
que a poesia,
poesia poesia poesia



POESIA 3. DO DESENTENDIMENTO
- ele te deixou.









o mundo passou rodopiando, quase estrebuchou. é preciso que não o habitemos para que ele sobreviva? o mundo ou nós, nós em parte dele, o fim de nós ou fim do mundo. e daniela do edifício máster? me pergunto o mundo, o mundo, o que faz d’ela, em seu quarto em copacabana? copacabana, bacana, mas nós do edifício máster... copacabana dos corredores escuros.

 

 

 

quinta-feira, 8 de outubro de 2009




“Donne dizia que ninguém dorme na carreta que o conduz do cárcere ao patíbulo, e que, no entanto, todos dormimos desde a matriz até a sepultura, ou não estamos inteiramente despertos. Uma das missões da grande literatura: depertar o homem que viaja rumo ao patíbulo.” (Ernesto Sábato)


“Seja qual for a coisa que se quer dizer, não há senão uma palavra para expressa-la, um verbo para anima-la e um adjetivo para qualifica-la. É preciso, então, buscar até descobri-los, essa palavra, esse verbo e esse adjetivo, e jamais se contentar com o aproximativo, nem jamais recorrer a fraudes, mesmo felizes, a palhaçadas de linguagem para evitar a dificuldade.”
(Maupassant)



segunda-feira, 5 de outubro de 2009


morre mercedes. e um pedaço de mim chora. e outra parte canta. desde quando sua voz pela primeira vez me arrebatou, ela vive em mim. me acompanha desde a adolescência, expressando em melodia minhas angústias de militante em movimentos políticos e sociais. ouvi-la, desde sempre, já era vivenciar a utopia, como se sua voz não cantasse um lugar no futuro - ouvir sua voz já é vivenciar o horizonte. quando estive com os pés em Machu Picchu, la cigarra tocou em meus ouvidos com o olhar perdido no vale de montanhas, e ouvi-la dentro de mim, ali, fez-me reviver o massacre dos incas, mas além, um canto oníssono de toda latinidade, de forma atemporal. tornei-me um pouco niilista com a militância, mas um pouquinho mais sensível à música - minha paixão pela luta que ela convoca, cantando a poesia de poetas e poetisas espalhados pelas terras deste lado de cá das américas, segue sempre como um batismo novo. nunca me canso de ouvi-la, mercedes. você é parte de mim. abaixo, cancion con todos, letra de Tejada Gomes, que me faz chorar muitas vezes, ao vê-la cantar. salve, salve, salve, querida mercedes, amada mercedes, companheira mercedes... um soluço no mundo, em saudação à sua partida. não acredito em paraíso, mas no fato de ter você contribuído de forma viceral para fazer-nos um pouco melhores, mais próximos ao projeto de humanidade. então é aqui, entre nós, que viverá para sempre, entre os imortais.



Salgo a caminar
por la cintura cósmica del sur,
piso en la región,
mas vegetal del viento y de la luz;
siento al caminar
toda la piel de América en mi piel
y anda en mi sangre un río
que libera en mi voz su caudal.

Sol de Alto Perú,
rostro, Bolivia, estaño y soledad,
un verde Brasil,
besa mi Chile, cobre y mineral;
subo desde el sur
hacia la entraña América y total,
pura raíz de un grito
destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas,
todas las manos todas,
toda la sangre puede
ser canción en el viento;
canta conmigo canta,
hermano americano,
libera tu esperanza
con un grito en la voz.
(Letra: A. Tejada Gomez - Música: Cesar Isella)



domingo, 4 de outubro de 2009



texto de Santiago, personagem do documentário de João Moreira Sales, excepcional! quanta sensibilidade. em joão. e em santiago!
(Santiago. uma reflexão sobre o material bruto) [assistam, assistam, assistam]


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sábado, 3 de outubro de 2009



ver se vê nos poros
não nos olhos
que os poros são mais postos
a sentidos

um corpo vazio
ocupa um lugar

o lugar do ar
o lugar da água
o lugar do horizonte

a dor é um lugar

sombrio
vazio
e cheio de ar

dá para respirar

o ar vazio de um corpo
está cheio de horizonte

aquilo que no ar ocupa um lugar,
aquilo,
a dor,
está cheio de vazio

o vazio ocupa o lugar do ar. 

o rio leva
o galho, o rio leva
a folha, o rio leva
o bicho, o rio leva
tudo que é leve, leva, leva
a nuvem, o rio leva?
a água - da chuva, da fonte, do balde, do cuspe, da lágrima, do gozo
o rio leva ou já é rio a água que não era e lá caiu?
chia brando um chhhiado de chuva
chama o sono, chama o canto
chama chanchã, chama, chama
o rio que chama e que leva, quando passa, passa?
o rio que passa, se é que passa
embora sempre sempre
leve a nuvem, leve o galho, leve a folha, leve o cuspe, leve o leve,
o rio doce até à foz,
quando fica salgado, deixa de ser rio?
E em qual gota terá deixado de ser doce, o rio?
o rio que se foi deixando,
se deitando
se deitando
se deixando a(o) mar