segunda-feira, 27 de novembro de 2006


às vezes a vontade de morrer num segundo,
de me desfazer inteira no mundo e depois a dor de não. ele assim, o mundo, sem início nem meio nem fim e o eu como único limite de tempo nele, ponderando os segundo para não enlouquecer, contabilizando os mares e rios e amores e sorrisos e amizades... há ainda quem contabilize papel. eu ali na praia, pensando quantas gotas há mesmo compondo o mar e quantos pingos de gotas de tinta deus usou para pintar tanto céu e não me cabe tanto número e essa impossibilidade de fechar a conta num cálculo exato me oprime, eu cá na minha sensatez positivista, eu cá na minha integridade científica, eu cá na minha lógica filosófica, e de pensar que eu, tão eu, tão tão tão cheia de mim, nada... mas também o que me resta senão eu mesma? eu no meu vazio cheio de esperanças e utopias, eu cheia de negação e angústias mas ainda cheia, cheia, cheia de tudo para transbordar, eu, eu, eu, eu, mas sempre no outro, sempre, sempre, sempre na busca do humano, do que há de calor na pele, do que há de poesia no toque, do que há de integridade nas coletividades, e cada vez mais tentativas e desencontros e no entanto, pudesse você me ler e veria, veria enfim que há alguma coisa de boa dentro de tudo o que enfim não somos. mas tudo o que não é pode um dia vir a ser e esta loucura da possibilidade é ela, é ela, exclusivamente ela tudo o que somos e chegar nela é o único possível. chegar na possibilidade da possibilidade.


quarta-feira, 15 de novembro de 2006


Lagoinha,
Em vez de tombá-la,
destruí-la.









"Pouco importa se não dormia nunca, com sua população de bêbados, prostitutas, trabalhadores em trânsito, profissionais do rebuceteio, outros profissionais. Gente, gente, gente." *

"Adeus, Lagoinha, adeus.
Estão levando o que resta de mim.
Dizem que é a força do progresso.
Um minuto eu peço
Para ver seu fim."*





*Textos de Wander Piroli

terça-feira, 7 de novembro de 2006

o adiamento sem fim de qualquer mudança substancial, a espera do momento ideal, das condições objetivas perfeitas, o medo do desconhecido, a satisfação com um estado de equilíbrio e controle, a não desestruturação, a conformação com o que há porque antes isso que qualquer desconhecido. e daí? o corpo quer cair, quer se lançar num impulso dentro da possibilidade, quer ser, quer dar-se à dialética, a dialética como encarnação do outro, o outro como fundamento, o outro dor e o outro ponte, o outro como caos e o caos como única possibilidade.