segunda-feira, 17 de outubro de 2011

SOMOS TODOS DANDARA


Comunidade Dandara, em Belo Horizonte, com cerca de 1.000 famílias, está ameaçada de despejo. Mas há um movimento em luta pela sua permanência. Porque somos todos Dandara!

sábado, 15 de outubro de 2011



acorda num quarto de hotel, sozinha e longe, bem longe de casa. mas há muito a casa passou a ser qualquer lugar do mundo. uma mochila, o livro que lê e que será dado quando chegar ao fim, cartas  a um jovem poeta, de Rilke. uma câmera para capturar imagens, uma máquina para escrever. isso será a sua casa e a carregará no corpo, feito tartaruga. sua ambição é plena. deseja apenas resolver uma dor que insiste em pulsar dentro, enquanto sabe existirem lutas mais sérias, fora. Dandara, Tunísia, Cisjordânia. o mundo está resumido a si mesmo e a toda carga de passado que o expande em história. comissões da verdade do mundo inteiro, uni-vos. Berlim continua em chamas. o muro nunca caiu. atravessa o Amazonas, o Chang Yian, o Mississippi, o Yenisei, todas as águas doces do mundo, para esperar a noite a noite de hoje, que nunca cai, mesmo quando já se faz escuro dentro. são 6 da tarde e não comeu nada ainda. pede uma canja ao restaurante do hotel. será sua única refeição do dia. tenta ver tv. desliga. tenta ouvir musica, silencia. tenta conhecer a cidade a partir da janela, sucumbe. passará o dia esperando o dia passar. frame por frame. isso se prolonga mais do que imagina durar um dia. certamente terá sido o mais longo já vivido. e quando pensa enfim, a tarde se foi, descobre que ali é menos uma hora de brasília. rajadas de pensamentos por segundo. é preciso desencorajar essa mulher. ele pensa? é preciso desencorajar todas as mulheres do mundo. o homem não faz ruído. é como se não existisse. mas preenche todo o espaço. ela vai para o chuveiro e se senta no chão, em cima de uma toalha. uma hora de ar respirável debaixo dágua. escorpião. espera o vôo das 5. terá que atravessar uma madrugada. quando o corpo já está enrugado e quase febril da água do chuveiro, se joga novamente na cama. o telefone toca. sabe não ser ele. mas quem há de ser? da portaria. já passa das 20. devem temer encontrar um corpo morto. muitos corpos escolhem hotéis para sangrar. ela não pensa em morte. pensa em sexo. nas sensações de ontem. e se essas a fazem escrever muitas páginas, não se trata de dor, mas outra coisa ainda sem nome, desconhecida. e ela mergulha como costuma fazer em mares noturnos. deixa o hotel em algum momento da noite. vai caminhar pelas ruas. o que veio fazer aqui? o que pode conter esse lugar? ele talvez a ache perdida. terá descoberto parte da verdade. não consegue chegar ao teatro. muda o percurso. pára num bar de esquina onde apenas um homem bebe com o olhar retido na chuva rala que torna a rua uma camada fina de espelho. a mulher não tem guarda chuva. o homem não a vê. “uma dose de conhaque, por favor”. sua segunda frase do dia. “uma canja” foi a primeira. a boca se abre por fome, a boca se abre por sede. agora o velho do bar a percebe. uma mulher sozinha na chuva a pedir conhaque não pode dar em boa coisa. ela não bebe para tomar coragem, mas para tentar diminuí-la. pôr um freio no desejo, que é sóbrio. o velho a serve e continua inerte. “sinto muito frio”, ela diz. “então vá para casa”, ele responde profético. ela o obedece. pega um taxi. o homem nem saberá. tudo estará escuro. depois dirá que foi. dirá. oferenda de vazios. não tem nada a oferecer. e não espera ganhar nada. é isso, é justamente isso. o não querer nada. tenta apenas se acostumar com a existência dele, agora que ele existe. e nada mais. depois talvez consiga voltar a pedalar em paz.


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

FILMES DE PAULO TIAGO

(para assistir, clique nos títulos)

Direção de Gabriela Leite.
Curta baseado num conto meu. 
Assino roteiro com Paulo e assistência de direção. 
Exibido na Mostra Glauber Rocha de Salvador, 
na Mostra de Conquista e no Festival de Ouro Preto.


Não me canso de assisti-lo...


Filmado num dia especial, em Conquista, 
enquanto tomávamos um vinho no fundo do quintal.


Com Morgana, linda!, e 
João Murilo, pintor de Guimarães.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

é o carro de biscoito passando em sua rua



esse video me deixa na saudade... 
o carro de pamonha que me acordava aos sábados... 
Geo, insano, produziu esse video. 
 

sábado, 8 de outubro de 2011

tradução lingüística da sua presença (ou o que pude reter de um livro técnico sobre imagens)

na sua pele
quando meu corpo
silencia
sucede

objetividade asseptica
de uma não-linguagem
no seu indo pra dentro de mim

ou tradução intersemiotica
de um ruído sem-lugar no mundo?

o que se pode haver
o que se há de ouvir
com as orelhas cravadas  no peito,

eh um
tum-tum
tum-tum
sem fim,

em vermelho

tum-tum
caligrama bomba
tum-tum
lacrado com cera quente,
tum-tum, ponto final

tum-tum
pulsação latente
de um corpo
xamã

você eh um concretista
enquanto olha e somente olha para os meus joelhos?
um surrealista? um dadaista?
artista pop? ou conceitual?

tum-tum
espaçamentos entre
desejos e nudezes,
sujidades queridas,
mediterrâneas

tum
ul
tum

possibilidades retóricas
do seu corpo cravado no meu:
- isso não eh um cachimbo!



terça-feira, 4 de outubro de 2011

atmosfera



hoje foi dia de cama. atmosfera de morte. caixas para arrumar, mudança pra fazer e o corpo não corresponde. isso talvez seja reflexo das coisas sacudidas? apesar de serem sempre pensadas, na maioria das vezes queridas, bate essa noite de insônia, de arrumação mental, de pensar o que cada tempo guarda, entulha, acumula, até ser varrido, lavado, renovado com as novas paredes. equilíbrio é conversa de bêbado. o nosso estado é sempre esse, de turbilhão. tarde de cama zanzando na rede do novo lar, prostrada. desisto de tentar fazer o que era necessário do dia, assumo a sua ruína, assumo que ele foi feito para sangrar. "o que fará até o fim do ano?" "esperarei ele passar." busco o rumo de volta ao quase antigo lar, tomo o metrô, vago cega, ouvindo os motores dos carros como gritos distantes. só a fotografia parece fazer sentido. passo o dia colhendo imagens. céu obeso de nuvens que ainda se seguram antes de chover, temendo o meu precipício - as chuvas mais me dissipam. dor. quero falar sobre a dor, assumir a dor, até que ela se dissipe (por hora!, porque ela regressará. é um buraco, onde caio com certa frequência). é sempre ela quem se manifesta na escrita, talvez porque só reste esse lugar, dentre outras pequenas formas, para se expressar. não a quero solta por aí, de conversa com qualquer um. muitos poucos a saberão. ela é uma flor de espinho. se basta. só para o menino triste, ao telefone, que sustenta o silêncio até a última gota, ela se abre, se escancara, porque não tem nada a dizer. é um buraco, insisto!, onde caio as vezes, sem perceber. um guindaste que me prende no ar, com as pernas soltas. uma dor de música. paixão cega, insana, perdida. overdose homeopática. é preciso saber domá-la, é preciso saber deixá-la transbordar em algum lugar. daqui nada se espera. basta saber que foi feita pra nada. deixar de temer assumi-la, deixar de querer floreá-la, deixar de se fingir contente. nunca quis ser poliana. felicidade é um estado a que aspiram os cristãos e há muito passou a achar uma baita sacanagem se querer eleita. quer estar entre os condenados. prefere o lixo. ou esse tal de deus abre as porteiras pra toda a sua medíocre criação, ou o negará até o fim. esse deus é falso. é perverso, é humano, demasiado humano. é menos do que ela mesma consegue ser. se deus consegue ser menor do que o eu, fico com os meus botões. o ego vale mais, é mais acolhedor. e já não temo sequer falar sobre isso. já carregou essa cruz por tempo demais. mas ainda insiste na terceira pessoa. o meu hospício é a terra. sou louca de jogar pedra. por isso me larguei solta, por aí. agora sim, às caixas de papelão.