quarta-feira, 31 de maio de 2006


Desassossego


Pessoa demais, fora o Fernando, enjoa.

 

terça-feira, 30 de maio de 2006






Gueixa


É sobretudo
pelo salto que
nos embotam

o olhar p’ro chão,
a cada passo, pé
a cada passo





 

Credo
O senhor morreu
e a ave cheia de nada


domingo, 28 de maio de 2006






segunda-feira, 22 de maio de 2006



Uma vontade imensa, imensa,
de arrebatamento.


domingo, 21 de maio de 2006



São Paulo bem ali no centro, com o medo pulsando
e ecoando e escorrendo pelas veias do país
tempo propício para o bem contra o mal
para o matar clandestino
e o enterrar indigente

e somos todos do bem e estes bandidos tirando-nos a paz
e um viva à unidade nacional
à repetição de todas as bocas
de todos os especialistas
é preciso ainda mais trancafiar,
isolar,
de preferência explodir esta população enclausurada
380 mil,
muito pouco, muito pouco

Indulto? Absurdo
Progressão? Proteção
Direitos humanos? Bahh...
380 mil,
muito pouco, muito pouco

Um viva mais ao proibicionismo
ao controle penal
à vigilância liberal
380 mil,
muito pouco, muito pouco

o crime é mesmo uma realidade ontológica,
a raiz do problema é no máximo o Marcola
e vem desde Lênin, que também lia na prisão (????)

ocaosecoa
buuhhh!!!
e se Foucault fosse vivo veria enfim a cidade prisão




A realidade é quase sempre uma seqüência de pontos tão rígidos que sequer dimensionamos e vivenciamos adequadamente o movimento entre eles. A realidade é enganadora pela estaticidade com a qual aparece. O mundo real, material, objetivo é falso (não por ser irreal, mas por iludir ser exclusivamente o real.) E como pode o mundo material abarcar toda a realidade que está para além dele mesmo? E como se pode conceber a existência sem qualquer concatenação com a fluidez do imaterial que há em nós? Insistimos em querer ver e manter e reter o mundo como um plano estático. Ficamos presos a conexões totalmente unidimensionais. E num segundo momento, ao nos depararmos com a infinidade de planos presentes, parece-nos verdadeiramente trágico que tenhamos vivenciado um grau de realidade anteriormente tão pobre.

A vida se abre em formas e dimensões infinitas e é preciso não se assustar com ela, mas com a estabilidade de morte que sempre buscamos. Vontade de reter... Por que se prender a um ponto da rede? Por que buscar a ilusão cômoda do estável e imutável? A vontade de reter a vida e desvendá-la inteira? De entupi-la de objetividade?
É difícil nos libertarmos do peso aparente de verdade com que um ponto de conectividade nos lança. É preciso se lembrar da infinidade de pontos invisíveis e reafirmar a cada instante a ilusão do ponto estático. Não há certeza. É só fluxo.
E enquanto isso, num canto da sala, uma aranha bordadeira...


sexta-feira, 19 de maio de 2006





É muito, muito. Impossível reter e refletir tudo - reter, refletir, sentir e esquecer. Ficam os cacos de experiências flutuando aleatoriamente na mente, apenas por lembranças parciais e desconexas. Esta inapropriação de cada acontecimento, a sucessão de novos fatos sem que seja possível vivenciar até o fim cada um deles, sem poder pensá-los, pari-los, criá-los e extingui-los... então eles vêm e vão por suas próprias patas, restando-me um conhecimento superficial e quase abstrato, absurdamente frustrante e mesmo inexistente.





desexistir
queria
mas a palavra não
desexistir
ou não
eis a
desexistir
profunda mente
no corpo, no espaço,
no vocabulário?
morrer, é só querer
desexistir - impossível mesmo para aurélio


quarta-feira, 10 de maio de 2006



 

O amor calado
e eu, caos

O corpo quer
silêncio e mão

Meu tempo
um desperdício

Um atlas de poesia
Salva o meu dia




Nas escadas, fumaça
nos corredores, gestores

elevadores,
administradores

‘Elogio da Loucura’ – é preciso ler.





E ainda pensa algo bonito
para dizer

algo bonito,
algo bonito...

sua poesia
bonita, bonita, acaba de ler



as mãos passeiam na madrugada do corpo
algo bonito: o calor das mãos, melhor que o cobertor
no entanto, recusa




Há silêncio
espaço
distância

e tão juntos para tantos pontos
interferência

‘preciso ir’
quem diz, eu ou você?
Depende.
É terça ou quarta-feira?








é porque algo bonito
para ser dito
precisa ser sentido
e tem dia
que é só solidão