quinta-feira, 15 de setembro de 2005


"Não há equivalência possível entre morrer de tédio e morrer de fome. Está certo, o assistencialismo não funciona, o socialismo morreu, os liberais ganharam e a história acabou. Más às vezes eu ainda me pego sonhando em sueco com uma sociedade pronta, sem qualquer destes desafios tropicais, em que a gente pudesse finalmente ser um personagem do Bergman, enojado apenas com tudo e nada mais.”

(Luis Fernando Veríssimo)
 

terça-feira, 13 de setembro de 2005



Ontem, ao chegar à UFMG no final da tarde, acabei me perdendo ao olhar para o alto. A aula ia no céu! Parei... Minutos estáticos, mergulhados em prata. Fui para o fundo do prédio e, sentada num banquinho ficamos ali, eu e a lua.
Lembrei-me de uma viagem que fiz ao Pará. O inusitado é o que de melhor pode existir na existência! Em um acontecimento que clamou a irrealidade, defrontei-me com o Décio Pignatari andando pelo Forte de Belém, em frente ao Rio Amazonas, aquele esplendor de água e céu. Cássio seguiu em sua direção, eufórico, a perguntar:
“_ O que pensa um poeta ao contemplar tamanho espetáculo?”
“_ O poeta olha maravilhado a paisagem e espera que com o mesmo olhar seja percebido por ela. Em Belém agente não olha. Tem visão”.
Assim era eu com a lua.



Para escrever é preciso de palavras ou de visão? 
Sempre pensei que no dia em que conseguisse objetivamente descrever minhas visões, seria enfim escritora.
Ao percorrer um texto estamos dentro do universo que consideramos conhecido, da linguagem. As palavras são mais firmes do que o vazio do olhar, o olhar cego de palavras,  a imagem destituída de conceito.
Para ler é antes necessário destituir-se da linguagem. Mas daí, do vazio horripilante da visão silenciosa, a literatura surge necessariamente, como grito de espanto.
Segundo Wittgenstein, o espanto ante a existência do mundo é a experiência filosófica por excelência.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005



Hoje acordou com palavras pulando como gotas de um chafariz...
Elas saem meio tontas,
dão passos inseguros,
querem trilhar um caminho,
mas ao sabor da liberdade,
embriagadas,
saem da rota.
Não tem jeito, a poesia sai torta...

sábado, 10 de setembro de 2005

Para ser poesia 
 é preciso chegar ao canto da página 
como quem bóia inteira no mar: 
abaixo só água,
acima só céu 
e o corpo o limite 
entre o azul e o azul

sexta-feira, 9 de setembro de 2005


Isaac Liberato (1906 - 1966)
A mulher grita em sua dialética.
Ela não é quem fora.
É asa que quer voar.
Se não escrever é capaz de explodir, explodir.
Os dedos tremem sobre a tecla, frenéticos.
Trabalho compulsivo de compor palavras.

Depois, tranca-se num livro por dois dias.

Trocar de pele dói...

sábado, 3 de setembro de 2005


Criei um blog. Pretensão contraditória de quem acredita já haver muita letra desperdiçada no mundo. Mas a existência é mesmo o grande ‘Auto-engano’ descrito por Eduardo Gianetti. Ela só se justifica pela sensação de que falta a sua palavra, a sua ação sobre o mundo. Para mim, afinal, o mundo não existiria, não fosse a minha existência! Enfim, talvez com este grande auto-engano que é próprio da natureza humana, eu me ligo à rede, meio tímida, querendo apenas combinar palavras. Molhar gente com palavras pra tentar florir. Bem vinda eu, bem vindos nós todos nesta linha imaterial que se estabelece com o magnífico poder da linguagem!