sábado, 30 de outubro de 2010

AMÉM


"As horas é que formam o longe. O sertão é uma espera enorme. Quem sabe o que essas pedras em redor estão aquecendo, e que em uma hora vão transformar, de dentro da dureza delas, como pássaro nascido? Notícia que se vai ter amanhã, hoje mesmo ela já se serve. Sabia, sei. Como cachorro sabe. Ah, o que eu não entendo, isso é que é capaz de me matar... Amor é a gente querendo achar o que é da gente. Homem a pé, esses Gerais comem. Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas. Só outro silêncio. O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais. Mas, por cativa em seu destinozinho de chão, é que árvore abre tantos braços. Estradeei. Razão e feijão todo dia dão de renovar. A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada. Veredas mortas. Chefe não era para arrecadar vantagens, mas para emendar o defeituoso. Se amanhã meu dia for, em depois-d'amanhã não me vejo. Liso do Sussuarão - ali tinha carrapato... Que é que chupavam, por seu miudinho viver? Choca mal, quem sai do ninho." (grande sertão, guimarães)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CABEÇA DE GENTE



C
urta experimental de 10 min de duração. Um jovem Werther percorre a pé longas distâncias de terra no interior das Minas Gerais. A densa busca do personagem é revelada enquanto uma exuberante paisagem de vales e cachoeiras se descortina. Entre o silêncio e a solidão existe um abismo a ser desvendado. Filme experimental de produção independente que contou apenas com dois realizadores, numa viagem em fuga do carnaval. Clique aqui para assistir ao trailer.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

poeira


falemos banalidades, ora pois. não gosta de dizê-las, mas sigamos ao seu alcance, então, às últimas demagogias depositadas no correio eletrônico, à campanha eleitoral quase fundamentalista, aos conflitos, aos crimes, ao pó, à futilidade dos dias e das horas. deus vota mesmo em quem? e deixemos para o porvir aquilo que não existe, o sentido que move o olhar, as mãos, a noite, o amanhecer, o sonho, inventos melhores do que tudo aquilo até então apresentado como real. deixemos para o além, o depois, o pra sempre, deixemos suspensas em todas as palavras que atrasam o (seu) desejo de brotar, deixemos, enquanto há a reticência, de dentro deste novo escritório de cinzas. suspensão. enquanto seu dedo hospeda um anel a noite cresce para o apocalipse de nós. não é possível crer na unilateralidade. eu pensei. mas quando eu morrer, dizem, tudo vai mudar - um paraíso, três vidas, novos encontros. cidadãos do bem! enquanto finjo acreditar o que é impossível saber, opto pela insanidade do fim, de mim, antes não existir a ter que me incluir entre os eleitos. um voto e. mas quando seus olhos, hum, quando seus olhos... três séculos não são capazes de apagar. lenta, a chuva - há de despedaçar suas cruas e duras resistências. o eterno (de mim) há de fazer brotar um ser de cáctus em nós. deixe-se guiar por esta brisa de diálogo, esse instante pequeno, ínfimo, quase inexistente, pois tudo o que não existe existe. distante... pois é, como dói ter que dizê-las. elas, as banalidades!, quando um rio de poeisra desfalece no são francisco, grita e clama o mar - o sonho da terra de cariranhas. mas o amanhã não nasceu pra ser dito. banalidades sim, sangue, seca, deserto. um mar, um mar em mim... pode ser.

"e se já não sinto os seus sinais, pode ser da vida acostumar."


domingo, 17 de outubro de 2010

mais de guimarães (e muito de além de mim)

porque quando encontrou o Grande Sertão, o infinito dele se mostrou transbordando as cercas que hão bem dentro do que carrega no corpo. minas é palavra inventada pra se curar de si, de fá, de dó. bahia mata a gente de desejo e solidão. café depois do vinho, depois do vinho, depois da prosa, depois das mãos. o passado dos dias são passado, vão em fila pro ser ser tão. conquista tem belo horizonte - salmo lido de dentro das nuvens, cirros escassos. a promessa está no céu? o planalto a deixa lúcida e seca - esquecimento (e) cura - ministério, reunião. sertão é fora da gente.

caça as bruchas. a-bor-to. xiii... falem baixo!
che, de que lado tú estás?



"Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir.
Um sentir é o do sentente, mas outro é o do sentidor.
O que eu quero, é na palma da minha mão.
Os dias que são passados vão indo em fila para o sertão.
Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa,
sem perigo de ódio, se a gente tem amor.
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Aqui é Minas; lá já é a Bahia?
Estive nessas vilas, velhas, altas cidades...
Sertão é o sozinho.
Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão.
Sertão : é dentro da gente.
"


terça-feira, 12 de outubro de 2010

(des)conquista


reverência na chegada,
saudosismo na partida,
neste hiato
de território e tempo
que se abre e fecha
quando dentro de conquista.

sempre a mesma madrugada fria,
céu lilás de ventos e uivo,
silêncio das bocas,
grito dos bichos,
ruas desertas -
ponte pros loucos.

um vai e vem de lado a outro,

quintal de rede e romã
pinturas novas, quadros da tia
abóbora com casca, muqueca e pirão

no violão o primo toca
enquanto pita
e boceja um verso

essa noite,
desde os primeiros sopros da terra
palco de querubina triste
e ânsia por um (des)encontro

FERIADO



está ainda bêbada, não exatamente bêbada de bebida, mas bêbada de acontecimento, completamente embriagada. a noite dura até de manhãzinha, quando ela já quase se não suporta. são dias lentos e intensos, com tardes longas que não se findam, desde ontem, numa espera de calor quente e hora quieta. comidinha boa, dá vontade de ficar, mas o dia de amanhã já guarda um vôo pra capital federal. drummond e clarice, por favor... parte pra quando? e os anéis de saturno? - ele não respondeu. ela sabia disso, mas ainda sim quis perguntar. a história é cíclica. os anos não servem para muito, só pra torná-la mais rarefeira. promete a si, sempre, estar inteira, mas esse vinho, meu bem, a deixa meio mole. uma jornalista da folha foi demitida por emitir opinião crítica sobre a classeA. isso enerva o sangue de um. tragédia do tamanduá. morte certa é no sertão. mas hoje não consegue ver muito claro. espera, espera. o quê, necessariamente? o dia passar, apenas, porque a noite está mais fria, respirável. queria pedalar, mas a preguiça não deixa. é bom feriado assim, que parece infinito, não acaba nunca, dura o sentimento do mundo, solidão de mil anos. chega paulo e se estica ali, numa cumplicidade de prosa e de se fazer calado, chega tio gildásio e come uma canjica, contado a vida de ser artista, e aí está jú, dando de comer pro pequeno jabuti. sabe não poder esperar nada, mas ainda assim espera um céu com percurso longo. e agora quando? três anos? três vidas? três tempos? tempestade. depois do furor, silêncio. a partida é sempre do lado de cá, bem como a busca, bem como a despedida. quando poderá respirar sem o peito arder? há molde certo pra cada percurso? está dito em cada olhar. ela não tem nada a dizer, mas disse muito, tudo que podia criar de linguagem ali. quer viver e morrer assim, em despudoradas escritas. viver é muito perigoso. essa noite existiu? ou sonhou que viveu demais? sonhou que não dormiu, suspensa do chão, mascando cenoura enquanto discorria sobre o novo filme e ouvia sobre o corpo musical. como é mesmo o nome da doutora de feira que a vai ensinar um tanto mais sobre sertão? que palavra é essa, o que ela carrega e porque a grudou em si? saudade do amor, saudade. hum, vontade de comer acarajé na última noite. papalo, vem me buscar!

domingo, 10 de outubro de 2010

o amanhecer no ser tão

desceu da noite e havia de novo o mesmo encanto compondo a paisagem, como se jamais houvesse deixado de estar ali, vestido de branco, e com olhar interrogativo, a (te) esperar. você? houve a pergunta. dentre seus amigos, disse ela. desculpe, não foi culpa minha, juro, foi de novo o sarcástico acaso, a rir do meu desconforto - pensou. - não tem preferido situações de risco, gosta de ter o corpo velejante distante do perigo, das pulsações que o sertão provoca, aprofunda. por que é ele, o acaso, assim tão cruel com suas tentativas de distanciamento? houve o nome temido pronunciado durante a madrugada, ele era doce, mas a pronúncia não saía da sua boca, apenas o recebia. degustou ainda amarga, cada letra. ditou-se o por vir: no fim da viagem, ele estará compondo o novo dia. acalme a pulsação e aceite o enunciado! ela havia criado tal situação? como pode criar o que teme? como é possível fazer viver uma situação-perigo? negar, de forma intuitiva, toda a distância, e da força da sua negação, criar o momento inesperado,? como ainda pode insistir em querer o que a toda tentativa de aproximação afirma em gesto e palavra, o não?, saída outra ali, não existia, a menos que abandonasse o barco em penúltima paragem, mas também um porque fugir não havia, nunca há motivo assim: antes um pequeno inusitado ao nada consentido. foi conduzida ao amanhacer do corpo vestido de branco. distância, horizonte. não a acuse. apenas escute o silêncio do universo. ela também não sabe o que o besta acaso quer dizer, talvez apenas goste de ouvir o peito de uma mulher acelerado, uma sinfonia em fá maior. não requeiro Céu, requeiro cura.


"ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. medo mistério. a colheita é comum, mas o capinar é sozinho. moço: toda saudade é uma espécia de velhice. coração da gente - o escuro, escuros. assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. viver é muito perigoso. sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar." (guimarães)












quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Arte em Conquista



  


Dia 09,
14 e 16 h
no Centro de Cultura.


à noite,
a Tragédia no teatro,
direção de Papalo
no Espaço Atuar.


tudo num dia só...
Estarei aí!