quarta-feira, 30 de março de 2011

imagem e ação


"é da experiência existencial, direta,
concreta, dramática, corporal
que nascem em conclusão
todos os meus discursos ideológicos."
(Pasolini)


os bons cineastas, aqueles que traduzem uma dimensão
de engajamento social e político, sensibilidade existencial,
ruptura com as formas, imagem disforme, anárquica, visionária,
não são apenas para serem vistos. à sua leitura, avante!


terça-feira, 29 de março de 2011

MUNDO PEQUENO













as mãos tateiam tímidas
e
oscilam como se.
despejam

pequeno não é o mundo
mas o arame que o cerca
e torna a terra pouca
o pão farelo
a fome seca

os dedos exigem verbos
mas há quem aspire felicidade

e você, tem fome de quê?

a mulher submersa -
retornará?

ela sabe encontrar (mais) sentido fora do apreendido -
é mister fazer implodir o muro, dilacerar o asfalto
disseminar o vazio
suprimir o dado
lançar a mão na sombra
fazer vazar o jorro
exterminar o medo
dispensar o tédio
a hora
a norma
o pouco

o seu silêncio
ecoa como sino dentro.
grita

quando o sono não vem
sobra a madrugada
e a lembrança do outro -
porque a utopia não é apenas um horizonte
mas o movimento contínuo de corpos

há momentos em que tudo beira ao precipício
mas chega a voz de um cantador,
chega o olhar de um visionário,
chega a lucidez de um artesão
e te empurra para um pouco mais de sol,
menos de si.

há noites em que os sonhos atropelam o descanso
e tornam o acordar difícil -
atravessar os dias
pode ser um passo

já os gritos da força, uma jaula.
você acredita que haja liberdade,
você até ousa a liberdade.
e vai.

sabe que não há fim da história.
no máximo, o seu próprio se
e a angústia que a oprime é
o que terá feito desta ínfima passagem
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"Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos" (drummond)



domingo, 27 de março de 2011

PAU BRASIL, por Edgar Navarro



Entro na roda pra saudar o amigo cineasta Sílvio Tendler por sua

brilhante e esclarecedora entrevista publicada no último número da
revista caros amigos - matéria de capa.

Muito feliz também porque Sílvio cita PAU BRASIL, de Fernando Belens,
entre os melhores filmes brasileiros realizados nos últimos anos (ao
lado do filme de Vladimir de Carvalho sobre José Lins do Rego: "O
Engenho de Zé Lins").

Por ocasião do lançamento do PAU BRASIL escrevi um texto, ainda sob a
emoção da estreia do filme no Seminário Internacional de Cinema de
2009, no TCA. Tentei publicá-lo no JB, mas não tive a acolhida que
esperava. Filme baiano não é assunto em jornal do Rio, a menos que
tenha QI. Aliás, continuo pasmo com o fato de o filme ainda não ter
tido o destaque que merece. O silêncio é constrangedor. Talvez agora,
com o comentário tão elogioso de Sílvio, a imprensa e os
distribuidores comecem a perceber o potencial do filme no circuito de
arte, mercê de seu valor artístico e cultural, etc.

Aproveito o momento pra publicar aqui o texto que não consegui
publicar no jornal. Li-o com olhos de hoje e continua atualíssimo em
relação ao que sinto por ele.

Viva o Cinema de Fernando Belens! Aliás, também Anil foi elogiado por
Jean-Claude Bernadet ao comentar o boxe dos 100 anos do cinema baiano
em seu blog. E pra minha grande alegria, juntamente com o Superoutro.

E PRESTEM ATENÇÃO: PAU BRASIL é maior do que nossa rusga, nossa richa,
nossa mesquinhez, nossa farinha pouca meu pirão primeiro! Ele nos
nivela a todos num patamar de carências, virtudes e vícios, num canto
terno, viçoso e amoral, desbundante, cinematograficamente
irrepreensível. Somos diversos, paciência – o mundo é assim. Sejamos
mais generosos, compassivos. Não haverá cinematografia bahiana (com ou
sem h) se não formos capazes de olhar pra o que os outros estão
fazendo. Cada um tem seu recado e é importante que todos sejam ouvidos
. Uns mais bem urdidos, outros menos... Mas o silêncio é uma forma de
assassinato cultural. Não existe o tempo certo pra se fazer arte: uns
começam tarde, outros não ganham o mercado - ganham a eternidade;
outros nem mel nem cabaça, y asi es la cosa. Sei que muitos estão
pensando apenas em como se dar bem. Mas um filme que nem esse nos
toca, nos empurra prum lugar de transcendência... Que sei eu? Sei que
o silêncio é redondo, surdo, estúpido, cabal, miserável e covarde;
acima de tudo covarde.

Por enquanto, Fernando, vou dizer o que vc já está cansado de saber:
fiquei extremamente comovido naquele noite, quero ver o filme duas,
três vezes; acho-o belo, sensível, competente, maduro, digno de todas
as honras com que se brindam as grandes obras do trato humano.

Axé!

Edgard Navarro


(para ler a entrevista na caros amigos, com silvio tendler, clique aqui)


ODE A HILST





Curta cotidiano
inspirado na poesia de Hilda Hilst
by me


"quero falar sobre o amor
este palavroso
que só se mostra
coloquial e absurdo como é a vida"




segunda-feira, 21 de março de 2011

areia areia areia e mar


ela pode se perder achando que está tudo certo,

pode morrer de mar, no deserto,
pode até querer mudar achando encontrar
o que sabe ter perdido ao ter.

ela pode se perder
ela pode se perder

sábado, 19 de março de 2011

extravio da razão ocidental


Atar as mãos ao mastro,

deixando livres os ouvidos.

Ah, minha cara,
erro grotesco!

Quando toma os ouvidos,
o som desata nós.


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tédio de Khayyam, por Pessoa:

"O amor agita e cansa,
a ação dispersa e falha,
ninguém sabe saber
e pensar embacia tudo."

segunda-feira, 14 de março de 2011

Que yo cambie no es extraño



"Cambia lo superficial
Cambia también lo profundo
Cambia el modo de pensar
Cambia todo en este mundo

Cambia el clima con los años
Cambia el pastor su rebaño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Cambia el mas fino brillante
De mano en mano su brillo
Cambia el nido el pajarillo
Cambia el sentir un amante

Cambia el rumbo el caminante
Aúnque esto le cause daño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Cambia el sol en su carrera
Cuando la noche subsiste
Cambia la planta y se viste
De verde en la primavera

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Pero no cambia mi amor
Por mas lejo que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente

Lo que cambió ayer
Tendrá que cambiar mañana
Así como cambio yo
En esta tierra lejana"

(Mercedes Sosa)

sábado, 12 de março de 2011

meu nome é tumulto


queria ter forças para um pôr de sol no guaíba,
mas não cabe nada mais de bonito sobre
- a luz pode ofuscar a ínfima gota de lucidez.

quando se percebe haver possibilidades,
o que dita a escolha?

sim, prefiro um chá
em quarto escuro
e sua pele quente dentro.

uma escadaria separa o corpo do poço,
tudo o que precisa é se levantar e marchar
- adia a noite, sabendo-a sem fundo.

a utopia inda navega calma
nos olhos de quem silencia.

agora a noite chegou
- mergulhar.

em porto alegre algumas palavras
sobrevivem coletivas
- escritas em pedras

até parece que foi ontem


"meu corpo inteiro
engolido por meu coração aflito
prepara-se para o encontro:
iminente"


sexta-feira, 11 de março de 2011



belezas são coisas acesas por dentro. mas o dentro é triste, é imenso, é sem fundo, como esse céu que percorro agora, à caminho de mim, com destino quase certo para um pouso sem sol, chuvoso, em porto alegre. a busca, não cessa ela jamais de buscar. um fado de liberdade. me cansa o beco, o oco, o sem fim. e lá vai o corpo de novo. reminiscências de outros encontros, de uma mesma busca. o que espera que haja lá, que não pode encontrar só e dentro? o que espera que haja no outro, que somente no outro pode parecer em si? no outro distante, avesso, inverso, reverso, longínquo? é por que se cansa de si? como se cansa de tudo o mais? esse mundo não é seu. vai voltar a procurar. sabe não haver descanso. a batalha é de enquanto durar a pele. se entristece consigo. a culpa não é sua, amor, o buraco está nela. vai só, pra não te importunar com as andanças, porque a plenitude nele engana, oprime, esgota. se sente menor, pior, mera parte sem fundamento jogada num labirinto de corredores sem cores. enquanto você dorme o sono perfeito dos seres que flutuam, os olhos da moça, acesos na madrugada, já pesam. há um céu azul ali fora do avião, há um mar de nuvens brancas que a cegam. de novo suspensa da terra. não teme sair do chão, mas ainda não aprendeu a voar. sempre há dor quando se arranca de si, sempre há dor quando arranca o afeto para sentir a pele crua, mas não aprendeu a ser diferente. ainda acha que pode haver algo melhor no desconhecido, lá aonde ainda não ousou tocar, não ousou pisar, aonde não está. o que há de melhor estará sempre além, porque no fundo o que há é a certeza do aprisionamento – precisa se livrar de si porque a única certeza que existe é a da clausura. a própria mediocridade a oprime – qualquer visão ou sensação nova já é melhor do que o que a retém. o sentimento de culpa sufoca. tenta fugir. e foge. mas quando chega no espelho novo, nunca antes refletido, depara-se com as mesmas rugas se formando no canto dos olhos. um certo cansaço, um sono que somente os quartos de hotéis ou uma barraca velha de lona são capazes de curar. há um mar lá fora. e quem acha que perder é ser menor na vida? pretendo voltar melhor e poder te abraçar mais leve. mas já não quer mais ser uma vencedora. Permite-se viver bem pequena. o bonito é ser pequena, baby. prometo tentar me acalmar até a próxima vez... mas jamais me verás íntegra. vivo o turbilhão, todo o turbilhão dos espíritos presos à terra.
saí do sol. agora percorro uma zona de instabilidade, nuvens cinzas. chuva. adentrei em mim. bem que você me avisou. mas eu não quis escutar – sempre opto pelo caos. todos me condenarão.
hoje é aniversário do meu-bem-querer. o amor sempre é um refúgio. eu estou longe, mas o longe é um belo lugar para se sentir perto.


 

terça-feira, 8 de março de 2011

8 DE MARÇO


, que saía às sexta-feiras e só retornava às segundas e eu precisava educar a menina porque se eu não der jeito quem mais vai dar, e eu também acho que mais vale você que é a mãe bater do que depois apanhar de policia, minha filha falou para a polícia que eu bati nela de pau e eu não bati porque eu tenho três filhos e eu nunca encostei a mão neles só nela que dá muito trabalho porque muito pior é o que eu passava com o pai dessa menina porque eu sou separada, mas meus três filhos são filhos de um homem só e eu até quis voltar para ele, mas ninguém agüenta porque aquilo é que era apanhar ficar amarrada na cama enquanto ele ia trabalhar e eu dei um tapinha ó um tapa de mãe e a menina começou a gritar e os vizinhos chamaram a polícia

é porque eu sou muito é besta porque não coloco minha filha para fora mas tem o meu netinho que eu amo sou louca por ele e se ela for me leva o menino então eu deixo ela ficar mas o que eu queria era um pouco de sossego porque ela me bate eu sou fraca das pernas e ela tem 41 anos. E a senhora veio como vítima ou agressora? Como que é minha filha? A senhora veio como vítima ou agressora? Eu vim porque me mandaram, mas ela não veio não ela disse que não vem

eu deveria estar cuidando do meu filho porque é um absurdo eu estar aqui é por isso que eu não acredito na justiça

eu fiz e assumo porque eu calculei bem e não me arrependo porque eu não gosto de quem maltrata os meus bichos porque os bichos são a minha companhia eu gosto dos meus bichos eu alimento os meus bichos eu molho as minhas plantas e a minha casa é minha desde antes de eu nascer e é por isso que eu moro lá e meu pai não agüentou e foi embora mas eu fiquei por causa dos meus bichos e as pessoas precisam arrumar alguma coisa para fazer e eu sou uma guerreira porque ontem assinei minha primeira carteira de trabalho eu esqueci de dizer uma coisa importante sobre mim eu sou do candomblé e eu acho importante falar isso eu gosto de falar isso cada um com a sua religião

ele me deixava amarrada na cama todos os dias e eu sei que ele não fez isso com mais ninguém porque ele sofreu demais quando eu o deixei e mais de dez anos ele ficou atrás de mim e eu sei que ele não bateu em mais ninguém porque ele sofreu e se arrependeu e teve outras relações e não bateu em mais ninguém


narrativa de um sentimento no pretérito mais que perfeito. multiplicado, porque mesmo o rio não pisa duas vezes no mesmo sentimento...

era necessário sair do labirinto em que se enfiara e participar de algo além daquele olhar, que ele só aprofundava o caos. sabia o risco de faltar palavra, contudo faltava e sentindo-se alheia do mundo flutuava pelos dias beirando cair pelas pontas. andava pela corda bamba, perdida ante a possibilidade de se estender no outro. temia a sua desintegração, sorria tímida e virava o olhar, era melhor sobreviver no eu. temia, mas o olhar sempre escapulia, ia ter lá, onde mesmo se desconcentrava. e havia também o sorriso, sutil, quase talvez menos que um sorriso, um semi-sorriso, um estado ainda não definido de leve comunhão. um estado talvez onde a palavra delicadeza caiba. e era a soma então do silêncio, com o olhar, com o semi-sorriso de delicadeza e também o céu que ele define a profundidade, era a noite todas as noites e ele dentro do breu. e ela sem saber direito se ia, mas bastou seu gesto, simples gesto de sim para que ela fosse, gélida de medo, sem querer mudar de rumo, mas indo. houve um ligeiro toque de mãos, abertura das retinas, diálogo despretensioso com vozes mornas e o calor de nada ter acontecido. só a vontade. e o temor ante o desconhecido, a possibilidade de mudar o destino.

era necessário sair do labirinto em que se enfiara e participar de algo além daquele olhar, que ele só aprofundava o caos. sabia o risco de faltar palavra, contudo faltava e sentindo-se alheia do mundo flutuava pelos dias beirando cair pelas pontas. andava pela corda bamba, perdida ante a possibilidade de se estender no outro. temia a sua desintegração, sorria tímida e virava o olhar, era melhor sobreviver no eu. temia, mas o olhar sempre escapulia, ia ter lá, onde mesmo se desconcentrava. e havia também o sorriso, sutil, quase talvez menos que um sorriso, um semi-sorriso, um estado ainda não definido de leve comunhão. um estado talvez onde a palavra delicadeza caiba. e era a soma então do silêncio, com o olhar, com o semi-sorriso de delicadeza e também o céu, que ele define a profundidade. era a noite, todas as noites e ele dentro do breu. e ela sem saber direito se ia, mas bastou seu gesto, simples gesto de sim para que ela fosse, gélida de medo, sem querer mudar de rumo, mas indo. houve um ligeiro toque de mãos, abertura das retinas, diálogo despretensioso com vozes mornas e o calor de nada ter acontecido. só a vontade. e o temor ante o desconhecido. a possibilidade de mudar o destino - se é que destino existe... (e é aqui que o sentimento se contorce e pula do rio, cançado da ilusão das águas paradas - mas quem pensou que tudo era igual, não leu cru)


CONTO FEITO A DUAS MÃOS.


- Dê-me o tom – pediu ele, estirado no sofá.

Era já tarde, mas ainda sequer o almoço. Café com pizza de noite anterior, alguns livros folheados, conversas e sofá.

- Não, dê você, o início é sempre mais complicado.

Ele tomou o violão, dedilhou as primeiras notas: blam, blam. Assobiou. Cantarolou uma espécie de samba-canção, desafinado, enfadado...

- Pronto. Agora é com você. Isso tem tudo haver com você. Acho que isso tem tudo haver com você, mesmo. Acho mesmo.

- Sim, mas queria um outro ritmo, mais lento, meio bossa-nova, vá, diminua um pouco este batimento, e sua voz, põe ela mais suave.

- Ah, a minha voz não tem jeito.

Outros três blans, blans, blans. E a canção solfejada começou. Enquanto ele tocava, Clara já compunha na cabeça uma estória de moça na janela e rapazes na madrugada. Nada que evocasse o barquinho-vai do velho Rio, mas, no fundo com a mesma atmosfera de noite quente, disponibilidade e desaviso daqueles tempos. Clara vagava numa vaga idéia de felicidade fresca, como só se sabe na infância e no começo de quando se namora.

- O quê você acha? – Clara sussurrou o texto.

- Acho que não estamos no mesmo espírito, talvez... Ele lhe passou o violão. – Toca um pouco, põe aí uma melodia, está bonita a letra, acho mesmo que dá música, mas faz aí, vou pegar uma bebida. Ele saiu da sala, deixando Clara sentada no tapete.

- Ei, volta, vai, eu quero a sua voz, não a minha.

A canção ficou pronta em minutos. Quando ele voltou, depois de longo itinerário entre a cozinha e o quintal, o quintal dos cachorros e o quarto, o quarto e a cozinha, encontrou folhas de papel com a letra miúda de Clara sobre o tapete, Clara com um riso bobo e as pernas cruzadas, o vestido entre as coxas, a dizer:

- Sente-se, grandão, escute.

Ela mudou num segundo a voz, indo buscar um tom quase sussurrado, lento, arrastado, quase mudo. Ele se aproximou, se sentou também no tapete para ouvir a voz e vê-la entre dedilhados, sorriu, sempre achava engraçado como aquela pequena mão percorria as linhas, meio desengonçada, esticando os dedos para tocar um sol.

- Uma bela canção – disse – bela canção – o olhar dele perdeu-se num ponto imediatamente anterior às flores do vestido de Clara e ali ficou uns instantes – Penso que quando a gente se perde na música é porque ela deu certo. A música, acho, tem esta função de nos tirar daqui. Não sei, não sei se é assim, mas que ela nos atira para algum lugar que não é aqui, isso sim, acho que sim, eu sei.

Clara pousou o violão ao lado da sua perna esquerda, deixando escapar, sem querer deixar perceber, um sorriso feliz, enquanto sua cabeça tendia para o chão onde ia abrigar-se o instrumento. Levantou-se repentinamente. Ele também. Os dois seguiram pelo corredor extenso, ele cantarolando a canção nova enquanto ela arrancava as flores que lhe cobriam a pele.


segunda-feira, 7 de março de 2011

GRAFISMOS


enquanto tenta se concentrar nos estudos,
um ser híbrido pula do lápis. na folha.
quando as palavras não servem.
linhas há. um olhar também. perdido.