domingo, 29 de novembro de 2009





a garganta arranha
= a palavra não dita vira pus.
um menino pode morrer,
dois meninos também podem,
mas um elefante incomoda muita gente.
o silêncio reza uma ladainha por mais silêncio
e os olhos do outro são o seu próprio,
se te olham quando você os vê.
os olhos do outro lado da linha,
a palavra calvário,
a palavra bomba,
a palavra mórbida
- a palavra tem o dom da seca,
a palavra poder.
por isso o silêncio reza uma ladainha.
enquanto os homens exercem seus podres poderes,



sábado, 28 de novembro de 2009




se algum dia você qualquer coisa assim
um movimento, um verbo, uma valsa,
uma palavra errada,
quase nada
qualquer coisa,
se algum dia você assim,
Hein?
nenhuma importância para a polis, etc e tal (?)
o futuro do mundo, a preservação do planeta, a floresta amazônica... (mentira!)
não é você quem vem, nem sou eu quem vai,
são os ponteiros que não cessam de correr, nem as estrelas de cair
- uma acaba de tombar do caos, obscena. (menos luz para o infinito)
o sono começa a embaralhar toda a órbita
e amanhã talvez já não exista tempo.
(será tão difícil entender?)
o trânsito silencia no meio da zero hora – por favor,
não diga mais nunca mais nada. dor de cabeça. hora do chá.



enquanto os homens exercem seus podres poderes,
a garganta arranha
= a palavra não dita vira pus.
um menino pode morrer,
dois meninos também podem
mas um elefante incomoda muita gente.

o silêncio reza uma ladainha por mais silêncio

a palavra do outro lado da linha,
a palavra calvário,
a palavra bomba,
a palavra mórbida,
tem o dom da seca,
- a palavra poder.
por isso o silêncio não se cansa:
reza outra ladainha








não temo as imagens.
temo a falta de linguagem,
o silêncio mudo.

não temo o silêncio ruptura,
o silêncio olhar,.
o silêncio solidão.

as palavras,
melhor tê-las como âncoras,
não como verdades.

na noite,
ditas ao sabor do vinho,
docemente pervertem,
corrompem.

se guardadas na pupila,
apenas,
potencialidades...




sábado, 21 de novembro de 2009






terá sido você? ou terei sido eu?
e quem dentre nós sobreviverá à amendoeira?
sinto saudade de viver no mar
eu, que não o vi nascer neste amanhecer.
tudo, além disso, tudo o que não coube e
talvez nunca caberá
me esvazia
sou assim mesmo, tumultuada,
às vezes verena,
às vezes inverno,
tal qual esta música de caetano,
que aperta o peito, arde, fere
apressa o dia de amanhã
e lembra qualquer coisa
que poderia ter sido
não foi e nunca será
e mesmo o que não será,
por ter sido foi é e
nunca mais nunca mais jamais.
tudo isso me enche de melancolia
oh, quão lindo, amor, a madrugada!
o mundo ora me encerra,
ora me esconde, ora me clarice,
ora me canoas, ora me alagoas,
sempre me virginia, sempre me emanuela.
não consigo compor um samba, nem uma bossa,
tenho mais o que fazer.
desculpe a correria,
mas antes de amanhã ainda é 22. 32.
eu só queria amor, amor e mais nada
(não, não... são os versos de caetano)
o piano está quieto, no canto esquerdo
não sei bem o que querer, salve jorge!
meu coração trincou,
não, eu não creio n’alma,
só na melancolia.
não reze por mim*
cante uma cantiga, toque uma melodia,
*mainha rezou uma missa
pra ver se me salva`lma
me deixe passar pelos dias, pelo mundo,
pelo cansaço das horas
- eu não sei amar direito, só amo torto,
só amo torto.
enquanto você aí,
de longe, me observa.
não quero linha reta,
- teias, uma mulher é sempre uma mulher,
assim como existe o escuro.
comecei o dia lendo pessoa,
ele nunca me consola, mais me desterra e
um dia acordo com os pés no teto,
mas você, não sei o que dizer
não sei, terra do nunca.

há um crescendo ao redor da rosa. fique.
o escritório está deserto.
drummond não mais trabalha nele.
só eu na burocracia,
até que a eternidade me hospede,
ou antes disso, uma película me alcance
(talvez eu venda sanduíche)
não tenha pena de mim, me dê asas
porque não cabe mais felicidade no mundo.
saudade de comer farinha
tudo o que der pra trazer, põe na mala
– carne seca também é bom
e uma idéia na cabeça.
drume negrita, drume
até mais tarde
[feliz completaños, f.]
não há trânsito na cama, desencana,
não tem funk na bahia.
sou preguiçosa,
debaixo do meu cobertor de lã,
mas hoje tá calor,
vou despir o verbo e adormecer.
antes, escovar os dentes!

domingo, 15 de novembro de 2009


reifico a idéia da madrugada e ela toma a forma de tempo. mas tempo não é matéria, é também invento. o tempo está do lado de lá do pingüim. gosto do pingüim encarnando o piegas e quebrando o gelo de uma geladeira politicamente correta, com imãs de gandhi e glauber. política e cinema são uma coisa só. dentro, alguns ovos e goiabada. as polpas estão congeladas, o que produzirá um suco cremoso. mas um escritor, digníssimo cortázar, deveria sofrer o privilégio de uma imaginação nas encruzilhadas lunares? não ouso uma volta ao caos em 80 verbos. essa nossa cumplicidade, meu caro leitor, é constrangedora! pois fique sabendo que não escrevo para que me compreendas, escrevo para que me hospede! falta casa pra abrigar meus espinhos e nem esta geladeira, com chaplin de bengala, me pertence. mesmo o lote que comprei, a prefeitura se nega a assinar. ó infinita grandeza, há túmulo depois da metafísica? raskólnikof, responda! o ser e o tempo o ser fora do tempo o ser nada sem o tempo. em novembro o tempo chega nos meus anos e faz-me percorrer os algarismos. numa fração qualquer de futuro só existirá a Pergunta Fundamental, o que requererá o guia dos mochileiros das galáxias. mas enquanto esta brisa da janela insiste em apalpar minha tez, permaneço mulher de balzac. às suas costas um paredão de cegos avista e avança. para eles, o instituto dos cegos. para você a glória. ok, ok, não digo coisa com coisa, já sei, já sei, mas desde que o verbo fez-se carne, não resta muito mais a fazer, apenas brincar de escorregador. meus companheiros hastearam bandeira. mas ela não é mais vermelha. e cantaram o hino nacional. veja bem meu bem: o brasil é bric!


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

chegou o dia. aquele dia, que parece mais um, de sol sobre o asfalto, a conduzir os passos para o trabalho, o olhar para o nada, os sonhos para o infinito. chegou o dia. pela janela nada induz que seja este o dia do futuro. falta apetite para tomar a estrada. o futuro, quando chegará? falta apetite para o peso dos verbos e a infindavel variedade de assuntos que precisamos opnar, debater, criticar e escrever. sim, escrever é um ato de tristeza e solidão. falar n~ao. (meus acentos se negam a contribuir com esta ret'orica falida). os dedos, com unhas pintadas de vermelho, navegam sobre as letras e acalmam o peito, indiferentes ao conjunto das palavras mas felizes por se verem trabalhar. os carros sobem a bahia e eu descê-la hei, em poucos minutos, na contra-mão da velocidade. (num barquinho imaginário). chegarei ao trabalho. e no trabalho a angústia que nos persegue: quantos meninos se matarão enquanto descansaremos no fim de semana? o mundo dos homens é o mundo das armas. em recife, no rio e aqui, bem perto de nós. na colômbia, em nova york, na somália ou no afeganistão. a morte define o silêncio e impede a pronúnica de uma nova poesia. a vida é mais simples em conceição do mato dentro. o sol torna mais branca a cortina da janela, mas não mais claras as idéias e menos frios os sentimentos. basta o sol para aquecer toda a reallity? o que você quer, emprestando tanta melodia ao mundo, infiel ao dicionário? o que você perde restrigindo a vida à soma do salário que recebe no quinto dia útil? o que você é resume-se ao que você faz? a realidade é bem maior do que a circularidade da terra, mas aqui mesmo no planeta água o homem empresta seu corpo ao fogo e tudo isso acontece independente de você, por que o que, ora bola, você poderia fazer, além de compor essas constrangedoras linhas? você espera que o futuro chegue, para te tirar do lugar. da fila do banco. da fila do desemprego. da fila da compra do ingresso para o show de chico. mercedes morreu. girassol morto, mas ainda de pé no centro do jardim. você olha o jardim, olha o girassol e teme que a morte se alastre às margaridas ao seu redor. a morte é contagiante. neste minuto um menino aprende a segurar uma arma. e o que você tem com isso? morar numa ilha talvez resolvesse todos os seus problemas, te afastasse dos seus pensamentos sobre o mundo. mas basta ler drummond para que o mundo caia sobre o seu colo.

domingo, 1 de novembro de 2009




la luz desciende de la casa, pero la pantalla blanca es suficiente para tocar los sueños, esos que sólo vienen cuando el cuerpo alcanza un estado de embriaguez, que no se logra con el vino, pero con la fiebre causada por el sentimiento de lluvia. en su cuarto, las primeras gotas de agua penetran sus poros. el olor de la lluvia ahoga la piel e deja el cuerpo húmido como las nubes. este cómodo sofá no es un sueño, pero una mediocre realidad. el mar no existe de este horizonte, pero montañas, en la noche invisibles, como también los seres que habitan toda la construcción - la mujer en el apartamento siguiente te hace pensar... ¿el mundo es el mismo para ella y para vosotros? mas tarde en su cuarto, un hombre o una mujer pueden hacer que te olvides de ti (con sus manos). tu no quieres pelear. no quieres. tu quieres escuchar hasta la voz del mar, pero el universo está lleno de gente que grita. el universo no puede caer. la vida es más grande que sus ojos y mucho mayor que su mar. mañana es un día de fiesta pero el hambre no elige día. el hambre de pan y vino, el hambre de sueños y amor. en días como este, el hambre es mayor porque las calles están desiertas. lo desierto para nosotros no tiene fin. no tiene fin el desierto. no tiene fin. y tu no sabes qué hacer con lo que no tiene fin.