domingo, 25 de março de 2012

transcendências




No principio era o Indivisível
inseparável do eu até o ato da criação,
que da desaparição do Todo
impeliu o Um a nascer.

O fragmento sopro de barro,
penugem de verbo deve esforçar-se,
posto agora como parte num mundo
amplo e adverso, ao despojamento.

Caído do pleno em razão
busca entendimento com resquícios
de paisagens distantes,
lembranças de antes.

Na terra esforça-se como semente desprendida
por afirmar o que foi depois de deixar de ser –
estado de movimento contínuo e invisível
que assim se pretende e em humanidade alardeia.

Bicho que foi inda antes de si, com
espírito de caverna rejeita o dado e
absorve o mais extremo
como o mais provável:

foge à objetividade rumo à afirmação
de um choque – forma pretérita
conservada lenda viva, manifesta
em rituais de fogo e renascimento.

A ponte é indecifrável
e por vezes basta a primeira infância
para fazer dormir o que
mais tarde ressurge em fendas.

Haverá isso no mundo?
Onde beira o firmamento?
O que é e pode não ser verdadeiro?

Feliz, pensa quem ousa depois,
é o ser do desprendimento
que deixa vazar uma rachadura
do real com o mundo.

Tudo o que não existe
existe.
basta ter olhos pra ver


Que quer dizer cativar? clipe experimental que produzi com Renato Torres


sexta-feira, 16 de março de 2012


o passado ressurge com potência. 
e não é memória. 
território não desvendado. 
ou porta milimetricamente anunciada. 
o passado é corda estendida.


segunda-feira, 12 de março de 2012

este desconforto, Zé, de te saber longe tem hora que pesa mais do que pouco tem hora que se estica pro norte procissão pras colheitas penitência de chuvas. mas o tempo some quando o vício de querer despenca a dor – fico grande na sua boca te tiro de ouvido te rasgo em olhar de quente me firo. você sabe o quanto cresceu de água a sua nascença? num era eu n’outro dia – era você querendo me ver. não se cansa nunca, amor?, vem deitar. (aprendi a dormir respirando você) tudo morreu três quadrados quando suspendi o braço em adeus. no cosmo mais uma estrela jorra morta pra milênios de luz. empresta ao meu corpo sua rede, deixa eu dormir na tua toca nunca mais tive sombra tua falta esse desmantelo de sol. saí do meu campo claustro e me prostro gentil dentre suas coxas - consigo ser mais que uma puta. bobagem. me lambe a boca, me impede pensar. Zé, apaga esse diabo de luz, vem deitar. sumiste há algumas eras mas vou te encontrar. agora esse lápis sem ponta fora do corpo sem salvação. no músculo ainda se veste um resto querer. nos dedos buracos. haverá tempo pra isso no mundo? o que pensa plutão disso tudo? um desvario atravessa o ventre comedido prostrado. eu sou negra índia perdida nesse resto caatinga. você nada disse e eu silêncio fiquei. só soube depois. os teus ciclos ainda aqui. ontem com fome cozi feijão e comi com vela me duplicando sombra. quando te conheci um rio corria embaixo de nós. entorpecimento nos pés. ninguém passava ao largo escuro havia uma ponte um céu de concreto no seu fitar e eu pensava que era preciso mas já agora não posso voltar. havia dor no mundo e inda agora e amanhã haverá. tento explicar, não consigo. quando você virá? a rede está vazia na sala. Zé, vem deitar.