quinta-feira, 20 de maio de 2010




o acaso detona o caos, faz cismar o peito, faz do eterno etéreo. o acaso existe para (des)construir certezas, (des)afirmar o firmamento. o acaso, ele te pega, te sacode, te (des)estrutura. o olhar que olhava, (não) olha mais. o amor que amava amando segue, mas, porém... a certeza que afirmava, desconfia. o amor... você se cala. suspensão. você ri debaixo d'água. você realmente consegue rir debaixo d'água. olha ela aí de novo, a dialética! cuidado com a curva! desacelera! mas debaixo do despenhadeiro, o mar, o nada(r).

sábado, 15 de maio de 2010

 
o saber interpreta e isso indica a ausência da verdade -
o evolucionismo, tanto quanto a teocracia justificaram o racismo, o colonialismo, o genocídio indígena, o tráfico dos africanos, o nazismo, o fascismo... o saber pode se fazer poder e o poder instrumentaliza. o poder se utiliza de "verdades" para criar e firmar realidades. realidade é linguagem. linguagem é ideologia. e ideologia é poder. cíclico assim.
 
 



 
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terça-feira, 11 de maio de 2010

o óbvio


mas dizer pouco não será mais que o silêncio?

não. o silêncio há de querer ser e ser,
para sempre só
silêncio.

terça-feira, 4 de maio de 2010

projeção da sombra

(Fabiana Leite, 2008)


"o nosso negativo, a assim chamada sombra, produz, como conteúdo consciencial inibido através da instância do superego, sentimentos de culpa inconscientes que procuram ser descarregados. Em todo homem existe a tendência a transferir esta sombra sobre uma terceria pessoa, objeto da projeção, ou seja, a transportá-la para o exterior e, com isso, a concebê-la como alguma coisa de externo, que pertence a um terceiro. Em lugar de voltar-se contra si próprio, insulta-se e pune-se o objeto desta transferência, o bode expiatório, para o qual é sobretudo característico o fato de que se encontra em condição indefesa". (Naegeli)
 



domingo, 2 de maio de 2010

o corredor

a cabeça dói, com frequência. pulsação forte do lado direito do cérebro, náusea, cegueira e sede. ir ao doutor, pedir exames, olhar aérea ao desenho da tv da cadeira fria do hospital sem cor. o hospital, corredor de nostalgia. a voz do pai se perdeu numa sala de cirurgia. o caroço da mãe sugado numa longa tarde de espera. de volta ao quarto, ainda dopada, solta desconjunturas de uma mente insana - a loucura deve ser assim. sentada na poltrona, inventar histórias aos personagens que aguardam a sua vez. uma moça vê figurinhas. seria a mulher ali, se não estivesse aqui, presa neste coração estranho. tentar fraudar o horário de visita e permanecer ao lado do leito da mãe. dormir retorcida num encosto de aço gelado ao lado direito do lençol branco que tem o corpo do pai. o irmão, quando de mandíbula quebrada, geme de dor e como um cão abandonado e frágil, insinua carência e medo. a doença cala. as projeções perdem o sentido e a falta de sentido consola e torna mais bonito o imenso breu que se vê da janela. um velho poeta de vestido longo e branco, empurrando um suporte de soro caminha na direção do casal, pára e puxa uma prosa. não parece doente. diz-se acostumado. trocou de coração, agora luta para que este aceite o novo lar. recusa, luta, estranha. o poeta faz poesia da dor. entende agora a importância do sus. traz pra rima palavras grandes e frias. e le tro car di o gra ma. viver é de uma magia estranha. quem sabe o que trouxe cada um aqui? o hospital deixa cicatrizes. é um espaço de supensão. fratura. um péssimo lugar que inventaram para curar a dor. chegar em casa, tirar a roupa, tomar um banho quente, deitar na cama com cobertor limpinho e cheiro da gente, dormir por longas horas. o corredor comprova a verdade contida nos pequenos prazeres. teve também a avó. como se esquecer da avó? seu beijo de despedida? seu corpo inchado querendo fazer xixi. sua vergonha de estar assim submetida ao outro, ela que durante toda a vida, até aos noventa anos fora independente e ativa. de todos que levaram a mulher ao imenso corredor, só a avó partiu. mas partirão todos. as dores e os momentos de náusea são intranferíveis, intransponíveis. incógnitas. a cabeça dói. a água ameniza. a amizade acalma. mãe e pai aquecem. irmão abriga. uma película suspende. o amor consola e deus também. um bom livro faz dormir e acordar. hoje. e quantos dias mais haverão p'ra frente e p'ra trás nesta tabuada nonsense

sábado, 1 de maio de 2010


sábado chegou. ele chega sempre ao sexto dia. sábado de música, sábado de letras. sábado passa,
sábado entorna, sábado retorna. sábado xadrez, sábado planta, sábado sol. sábado poeira vassoura e pano-de-chão. sábado filme, sábado vinho, sábado pizza. sábado feira, sábado verdura, sábado carne. acordar-tarde-no-sábado, dormir-a-tarde-no-sábado, virar-a-noite-de-sábado. dia de pecado em véspera de missa. sábado caldo de cana com limão e sarapatéu no mercado. dia bom de se dar e guardar, de-não-ver-cara-de-rua-e-gente. sábado,