domingo, 16 de agosto de 2009



os cabos estão proibidos para escaladas. tome as trilhas de pedras laterais. saiam daqui agora, vou ligar para a polícia. este trabalho é estressante, não? sim, muito, estou aqui desde ontem. ninguém vem tomar o seu posto? sim, mas ainda não chegaram, sigam pelo parque e retornem por aqui. inverno, mas amarelos os ipês apontam a primavera do alto. há vozes. elas fazem com que você se faça muitas perguntas. quem é você, o que faz, o que é, como se sente, o que pensa do mundo? parlatórios, idéias gerais, conceitos, a morte dilui tudo. h1n1 torna mais esdrúxula a existência. menos poético do que morrer de amor. mais crua e visceral do que morrer de fome? h1n1 não tem classe nem cor e por isso repercute um poquito más. quem propaga a gripe, los mexicanos, el viento, el medios de comunicación o los laboratórios? em saramago a catástrofe é mais palatável: literária. quisera fosse apenas. não esperam que você responda, não esperam respostas, apenas a sua adesão. e nem somos capazes de romper, embora quiséssemos somente fingir pertencimento, participação. preciso fazer xixi. um sol? um peso? um real? um dólar. donde vives? lhe dirão que o lago é cinematográfico [mas nenhuma palavra para revelar o efeito perverso da mineração] a bandeira está posta no chão, feita assento. eles podem se zangar! eles querem que fique tal qual foi educada para sê-lo, mecanicamente. não queira se ver de fora, não queira... estão agora com seus rostos sorridentes. mas atentos! lhe seguram pelas mãos e te conduzem (rumo a?) que mãos quentes eles têm... leito branco de hospital, cama macia, oxigênio farto. - mas não quero morrer aqui! eles o tomam pelos braços. - não quero morrer aqui. eles ouvem o rugir da morte e a alastram em rede nacional. (- não quero morrer aqui....) à sua esquerda seus entes queridos usam máscaras e sentem o hálito da morte. [não quero morrer aqui], em túmulos coletivos tal qual na idade média. a pós-modernidade há de ter servido para alguma merda, não? nem para livrarmos-nos das tumbas sem nomes? e ali está seu amigo, e ali está seu amado, do outro lado. estão apoiados em você, escorados em sua miséria, temendo o absurdo tamanho do nada. - mas eu não quero morrer aqui... espere! como a cidade é linda vista desta serra... deixe-me senti-la, deixe-me respirá-la pela última vez. qual era mesmo o nome da cidade antes de se tornar belo horizonte? serra do curral. ha ha ha. acho graça, acho poético. daqui de cima estamos livres da gripe(?) e quem sabe qual caminho faz o microscópico ser? espero não ser um fardo muito muito doloroso para todos... há um poço abissal, azul anil, cheio de larvas, explodindo em seu peito. um homem surge sujo de minério, sinistro. se eu tivesse seis quilos a menos, diz, teria morrido hoje. havia a dor, o cheiro da morte exalando dos seus poros. silêncio, reverência ao seu quase-fim. depois, depois o trágico faz-se cômico: gargalhada. escapa (ele) da linha transparente. ainda pensa, ainda existe. logos. respira um ar viciado de bactérias. grita quando se distancia. júbilo por ter superado as pedras. júbilo. você acredita em deus? - espero para ver se ele existe. terá que descer a serra e beijará com afeto o vidro do aquário do peixinho de estimação. está subindo, ainda. ascensão laboriosa. mas está livre da escalada, agora a montanha fora desvendada. ele a escalou. e o peixinho jamais saberá de nada. nem deus. passou tanto tempo olhando para cima, e agora pode olhar para baixo, para a cidade, deste lugar alto. é o maior dos seres do mundo. maior do que deus, que não sabe nem de perto o que é estar com a pele grudada no corredor da morte. grande panorama Dela, cá do alto. minhoca grudada na casca dura da Terra. Terra: tudo o que existe. e o dasein: trepadeira (parasita ou simbiótica?) do alto de montanhas, colado à gravidade, mais perto da lua, o Ser. e do sol, que já queima a pele [cuidado com a exposição abusiva! há também o câncer!] tudo é poeira, mas 2010 é ano de politiké tecnhé. então,



domingo, 9 de agosto de 2009




ilha grande me remete a ramos, em memórias do cárcere. um paradoxo. estão lá os escombros marcados na areia, lembrando-nos o terror da nossa história...

"Desgosta-me usar a primeira pessoa. Se se tratasse de ficção, bem: fala um sujeito mais ou menos imaginário; fora daí é desagradável adotar um pronomezinho irritante, embora se façam malabarismos para evitá-lo. Desculpo-me alegando que ele me facilita a narração. Além disso, não desejo ultrapassar o meu tamanho ordinário. Esgueirar-me-ei para os cantos obscuros, fugirei as discussões, esconder-me-ei prudente por detrás dos que merecem patentear-se" (graciliano ramos).

mas há de ser possível.