terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

antes soubesse eu




subsiste a sua imagem ao silêncio, ao tempo, à memória, aos domingos e feriados. queria entender melhor o que passa, o que há fora do corpo que molda os sentidos. esse estado onde nada mais cabe, onde nada mais entra, onde respirar é tudo. então você se despede. e ela se pergunta não a que? quais dentre elas? desiste? o que se finda longe está do que te alcança. e nem ela poderia definir o que seria o percurso se. as possibilidades sempre serão mais ricas do que as realidades e era lá onde ela se encontrava quando o tinha - ainda dentro de uma possibilidade. porque nunca está no fato. o fato existe? existiu no amanhecer de hoje? o não é um fato porque fere a multiplicidade das possibilidades almejadas. uma delas recebe o corte e o bordado inteiro é desfeito. exploradora a descobrir ruínas numa cidade abandonada, ela derruba suas colunas, atravessa suas muralhas e desvela inscrições na pele antes inelegíveis, tesouros prontos a serem desterrados. lapsos, chistes, sintomas, defesas e o mais intrigante sonho. você clamou por ela na noite. você a desejou em silêncio. você fotografou o seu corpo nu e agora se refugia distante. a cura não reside numa explosão dramática de percepções. aí reside a resistência. a cura está em outro lugar. tato, paciência e absoluta (ausência de) solidez emocional. tudo grão para o seu moinho.

ainda respira. e respirar é tudo?
hoje teve uma recaída e se trancou no quarto
e jogou a chave pela janela para não adentrar
a reunião

por mais um dia,
e outra ainda, não.

ouve ry cooder e dele
pressente cristais
numa estrada camada de horizontes

mais alguns anos e
amanhecerá acorde
nota dissonante
música

ela ainda
te amo

vem. beija-me.
entre todos os bichos
poderás ser o meu eleito.

e então, com sorte, as pedras falarão.

   - sigo limpando chaminés

 mas eles são fundos

soubesse o que fazer com as flores estriadas as mãos enrugadas o sangue caindo outono, soubesse o faria alegria dispersa de carnaval

é natal
é são joão

nos teus olhos
acesos
num motel sujo na lapa
vida na tua língua

sábado, 25 de fevereiro de 2012

ramificar-se


Sempre escreve para um outro forjado
poeta maldito de um corredor de gueto escuro
parido, um sombrio reflexo inspirado
em filmes noir nunca esquecidos.

Psiu, ela ouve Billy Holiday.

E quantas vezes ele há de ter imaginado
ser a razão dos versos dela e se esquivado
pois maldito que é maldito
quer ser fodido e não amado.

Psiu!, ela ouve Billy Holiday.

Agora a língua, o sangue, cada átomo
dessa mulher doente no chão a meditar estendida
- nesses dias lentos que parecem nem respirar,
clamam voz, querem dizer, pedir guarida.

De onde ela vem a fome faz brotar visões
devoradoras fingidas por ele entendidas.

Billy Holiday não se cala, suicida.

É madrugada. Aos poucos uma calma nova adentra
aquece e suscita crescente esquivanças da dor.
Expande o peito e aperta o tempo –
o carnaval há de chegar,

um novo amor.

E a mesma ânsia de corpos
nus estendidos.

Serás aquele que vai com a noite
e debaixo do céu invoca à Terra

volúpia
volúpia

right or wrong
can't get alon

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Como Marte, eu amante

abaixo um poema meu 
musicado pelo querido Renato Torres



Não há escuro no ocaso pra quem vem de Vênus
e essa luz em céu noturno de estrada sem rumo
é um convite em murmúrio à fome,
um breve estado em esquecimento.

De ter desnudo desejo nesse clarão de noite
depois de em tua boca um verso,
fábula de culpa alardeia templos
repletos de deuses que uivam viris, suculentos.

Mas esse canto de cisne novo
te deita em concha de pérola
mal a noite em espiral adentra.

Sua voz esse intento
cratera de fogo
em vulcânica superfície.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

dieta de consonantes


a-manhã pula pela janela
em lábios de desjejum.
amor assim
dói não
mas deixa em carne a fome
de comer águas.

sábado, 4 de fevereiro de 2012