terça-feira, 28 de junho de 2011

Meu novo espaço

Criei um flickr. Clique aqui
minha companheira


atrapalhando o trânsito...


brasil


pelas ruas do centro histórico




















sábado, 25 de junho de 2011

o vento o vento e só


Um vento brame 
a montanha geme
e sacode o mar
- um barquinho zonzo 
pode afogar

enquanto isso,
uma imensa nuvem de  quadris largos,
vestida de rendas de rosas nas bordas
toma o céu da pequena enseada
e se roça inteira na montanha costeira, 
lambe suas folhas,
seduz seus troncos,
cobre o verde de orvalho

Quer repousar
cansada que está
da longa descida das bandas de lá 

Invejoso,
o veloz vento do norte,
que chegou primeiro,
e  se banha escondido no meio das rochas
uiva furioso e lança num sopro
a gorda e majestosa nuvem
para além mar 

Ela não desiste, resiste, insiste
e vem ao som dum bolero
escarnecendo,
espezinhando,
numa mansidão que entorpece e convence

O vento aos poucos 
se acalma pra ver o tempo da nuvem - bem diferente do seu...
encosta sua tez franzina sobre um coqueiro 
e sem perceber, talvez só por intuir,
pela primeira vez
 se deixa contemplar um poente.
Depois dorme,  
cansado que está de ranger por dias 

Quando ele acorda, no amanhecer
a pálida senhora sumiu,
se dissipou.

Da fúria que rege o vento
ele sacode o mar, 
faz nascer as ondas
cospe no barquinho zonzo que ainda dorme, 
e que sem nada entender, 
e mesmo sem saber porque,
se afoga, se afunda.

o vento agora e só e vento.



sexta-feira, 24 de junho de 2011

noite de são joão


antes dessa longa
noite de frio chegar
e deixar arder e fazer queimar
a pele

contempla a festa
te aquece na chama
põe tua boca crua neste cálice de genipapo
observa a sombra do fogo
que nasce com a fogueira
e esquenta teu corpo antes de partir em brasa

não, não estás apenas suspenso na torre
ou subindo ao céu num balão
- invades o incorpóreo da noite

calma amor,
deixe-se ficar por mais tempo,
te quero inteiro -
saliva suor sexo e pés
na noite de são joão



quinta-feira, 23 de junho de 2011

o dia amanhece choroso e torna difícil o sair da cama. tenta assistir godard, mas há uma insidiosa recorrência de desejo que a leva de forma circular pra dentro de si. a casinha que a hospeda em parati abriga duas cachorras que uivam incessantemente. nenhum barco no cais parece querer enfrentar a tempestade anunciada com a primeira brisa da manha, mas que se retarda em vir, tal como vai a vida - quando parece querer reter o melhor de si, um vendaval arrebata e caos. praias com chuva lembram marguerite duras e sua fixação pelas águas. tem mulheres que mais se diluem quando à margem do mar. ela soletra a sua tez, espalha os dias como extensão do breu. chuva torna as horas de preguiça mais doces. a mulher se insere na rotina da cidade e começa a se sentir parte. compra pão no mercadinho em frente, pedala na beira do rio, silencia por dias, até fingir ser um outro alguém, capaz de suportar o peso de tudo, sem querer saber além. você a lança numa verdade de pedra e ela só queria se estender por dias em suas mãos - deixe o muro derreter. você diz não saber nada (sobre ela). ela avisa que veio de lá - posso me ver nos seus olhos, posso desejar catar poesia de toda essa sombra, clarão de incerteza, diluvio, porta para o que há de febre em ti. ambiciona mudar, mas se descuida. como pode ser mole assim? tinha que se molhar, tinha que se molhar... quer ser parte, quer ser toda, carne viva, letra morta.

põe as mãos em mim tira as mãos de mim
me deixa entrar,
me deixa fugir,
me deixa me deixa.
tira as mãos de mim põe as mãos em mim.

saio a caminhar. a cidade se prepara para mais tarde, porque inda é cedo, amor...
mais turistas tomam as ruas.
moro na periferia, pertinho de uma praça aonde os meninos soltam papagaio. enquanto pedalo, ouço a radio do poste - gostei daqui - a cidade de quem mora na cidade, o porto dos pescadores, as ruas ermas da beira do cais. poderia viver aqui? desejo bucólico de quem se quer escritora. os barcos se espreguiçam despertos há muito pouco pelos homens que devem levar oferendas ao mar.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

em terra de Glauber, cine Madrigal vira igreja

(foto de Anderson)


menos um cinema no mundo. mais uma igreja. fenômeno comum no Brasil, mas pensei que pelo menos na terra de Glauber iriam respeitar o único que ainda restava, porque não vou considerar aqui as salas do shopping. isso causa uma certa fúria, porque a cidade perde seus já tão escassos espaços de cultura - sim, já estava fechado há tempos, mas havia uma certa resistência que, pensei, poderia ser capaz de dar-lhe vida outra vez, já que a cidade cresce tanto... vã ilusão... concordo com Rai, é preciso fazer algo enquanto a sede ainda está alugada, antes de ser vendida. é preciso reivindicar que esse espaço se torne patrimônio público e cultural de Vitória da Conquista.


parati


parati não parece nome de terra,
mas destino de coração enamorado
depois de carnaval passar


segunda-feira, 13 de junho de 2011

ARREFECIMENTO GLOBAL


é inorgânico o encantamento
por isso dele se distancia
a régua a vassoura o guarda chuva o chá

uma passagem pra parságada¹

não se trata de malícia, baby
o que ela busca,
rebusca
- ainda não sabe encontar.

as baratas, somente elas
sobreviverão ao fim do mundo
mas antes disso, dedetizar os porões
e deixar respirar o querer

vou me embora p'ra parságada
lá eu mesma serei rei

o mar é o fim
depois, o horizonte
e depois de tudo de tudo de mim -

o que mata o horizonte?

podas.
mas o corpo sísmico
te fará sucumbir, te fará declinar.

o silêncio dos pássaros
é como o silêncio dos homens
sabe esperar o dia clarear


¹vou me embora pra parságada.

MICHEL MELAMED


apesar de ter um link seu neste blog, nunca escrevi sobre ele, então me permito agora porque havia tempos eu não o visitava e o fiz há pouco - sempre me delicio com seus textinhos poéticos, e quase morro de inveja da sua sagacidade. eu o acompanho desde antes dele se tornar (mais) famoso como ator global, quando ainda era (apenas) um entrevistador da tv cultura. e eu custava a me manter acordada, e às vezes era cássio quem me sacudia do meu já profundo sono, porque sabia do meu prazer em assisti-lo. nem mais sei se ele continua por lá porque eu ando meio desligada da tv, mas enfim... eu gosto desse menino, artista múltiplo, chamado Michel Melamed, sua forma leve e inteligente de interagir com o mundo. o seu site, também, é uma viagem - queria saber programar o meu com tanta liberdade! vale a pena se aventurar pelas bandas de . veja sua última publicação. e vc, o que responderia?


O jornal me convidou pruma pergunta pro Caetano. Mea culpa: corr(o)ido que estava e como o horário do envio não ficasse claríssimo,  cabei formulando de sopetão dez perguntas para que o repórter, se ainda houvesse tempo, escolhesse dentrelas. Creio que desrolou-se-ê – não tive notícias do desfecho. Assim, segue o decálogo perguntício. O que o Caetano responderia? O que você responderá? Okê okê Oxossi?

1.    Todo mundo é ou poderia ser artista?
2.    Que canção sua imagina mais cinematrográfica, portanto propensa para uma adaptação?
3.    Já te vi falando sobre tantos assuntos… Difícil imaginar uma pergunta novidadista… Assim, por exemplo, o que você acha de mim?
4.    Qual o sentido da vida?
5.    Tesão sem alcool é amor?
6.    É possível estar carente, mas estar legal?
7.    O que será “looping lips”?
8.    Por onde começar?
9.    Quer fazer o público sonhar?
10. Pra que serve uma entrevista no jornal?

PS - o melhor é imaginar as respostas de caetano para essas perguntas...

OUTRO TEXTO DELE