sábado, 28 de julho de 2012

O ESTADO DAS COISAS



De tanto que observo me toma uma visão

em que o ipê da Liberdade,
despido, magricelo, carrancudo,
tendo como fundo Niemeyer
curvo, preamar, arco-íris
esconde olhos
de janelas recém acesas do entardecer
íris de voyeur reticente.
Me toma cobiça aquela vida de olhar de cima
tão classe-média, contemplativa, literária
ao contrário de mim,
transeunte da praça, de olhar
baixo, sonhador, proletário.

O meu coração parece grande, mas é líquido
e derrama fácil fácil
quando
qualquer um diz que me ama
– eu me apaixono como água.

Vejo agora deste ponto da mesma praça,
debaixo da árvore sem nome,
o moço-negro-da-flauta tocar clube da esquina
enquanto um casal se beija e me mata de inveja
– vou até santa tereza nos tempos da centelha vermelha

Acredito que posso reter este céu
lilás estrelado de palmeiras
e dizê-lo a qualquer um
com qualquer palavra
– retenho o que vejo para que vejas através de mim.

isso mesmo: a utopia existe e se renova

Então não é por muito que me deixo,
mas pelo ínfimo. quase me atropelam.
Dú sempre diz pr'eu olhar p'ro lado
“vais morrer atropelada!”
Estou com má digestão do mundo
mas como fazer, Maiakovski,
na falta da primavera?
Fabinho diz que vou surtar,
pra ele ando pisando em nuvens.
Como deve ser o caminhar?

Enquanto não sei,
soletro:
ô vida besta, meu deus.




sexta-feira, 27 de julho de 2012

CURTA PRODUZIDO EM BELO HORIZONTE







Personagem: Eleni Kouklanakis
Argumento, direção, produção, fotografia e montagem: Fabiana Leite
Assistência de fotografia e produção: Matheus Augusto e George Neri
Produção e still: Moacir Gaspar
Música: cedida por Makely Ka



quinta-feira, 26 de julho de 2012

FILHA DA CHAMA



fecunda novos dias enquanto a linha imaginária do horizonte oscila entre ciladas paridas de velhas fogueiras, porque não nasceu aqui. o corpo é pó de velhas bruxas já queimadas. de desprezar antigos sensos de realidade é dada a vivência sem freios entre desatinos sempre renovados. seu próximo livro irá se chamar Neblina. tudo o que vive é falso como este seu olhar lânguido de vinho a idealizar outras paragens. num filtro entre dois sentidos, a bruma do pouso, a curva da transitoriedade. a gosto deixou teu corpo descansar nestes lençois de julho e depois escorrer anônimo feito luz rasa pela fresta embaixo da porta.

Acariciar esta noite em teus braços, 
quermesse prevendo escoamento, 
bazar de lendas, 
esquecimento. 

faço as malas. posso partir amanhã ou depois e partirei decerto. se quero o silêncio calo, se quero o oposto grito. ficarei por hora em mim, expurgada do fogo, lira branca extraída de uma palheta suja. a espera não é mera busca, é breve certeza nonsense, vestido rasgado a mão por desejo impensado, felina de rua varando a hora sem eira nem beira. disseram haver firmamento, mas a felicidade da aurora é fria. ah, quisera ser aquela imagem sobre a colina. 

vai chover.
e se não há vida na terra
na hora da queda d'água
pra beber o que manda o céu,
escorre água doce
a se salgar no mar. 




domingo, 22 de julho de 2012

GRANDE HOTEL




Viviamos num quarto e sala do Malleta
sem geladeira e fogão só um colchão
rodeado de livros e cheios de vícios
como dois errantes vagabundos

no Xok Xok a filar cerveja

tudo durou pouco mais de três eras
vivi e morri 7 noites 5 horas 100esperas
no amor. so what?

comia poesia.
pois Zé,
também pudera...





ATÉ A ETERNIDADE






Você entra no meu barraco
faz festa no meu terreiro
e depois sem cerimônia
se manda nessa alegria?

eu juro que não queria
cair de quatro a cada passo
mas se você mudar eu mudo
se você casar eu calo

como pode se orgulhar
de desfilar com essa vadia?
um dia você vai voltar
vai se rastejar

e eu vou te esculhambar
vou te maldizer
mas vou te socorrer
vou te perdoar

e iremos nos casar
na igrejinha da serra
de frente ao mar

Aninha será nossa madrinha
Padre Fábio dará a sua bênção
depois disso um filho e outro
até chegar a menininha

e se mesmo assim não aquietar o facho
eu juro que te lasco todo
eu juro que te mato
eu juro que te mato.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

VIOLETA FOI PARA O CÉU




Nova publicação minha em Palavras sobre Coisas, uma pequena crítica sobre o filme biográfico da artista chilena Violeta Parra. Clique aqui.



terça-feira, 10 de julho de 2012




o homem cruza com trôpegos passos a noite.  dela deriva uns uivos de vento. adentra um atalho de pés descalços e pisa espinhos amontoados de cactos. junto vem sentidos de cego. fareja uma voz ao longe e pouca coisa o apavora, restos de aurora.

-       De pé.
-       Eu vou. Não diga mais.

um passo é dado. obscura expansão, transfusão de si. sangue gasto no outro. o horror metafísico do desconhecido se esvai com o olhar e nada ver.

- Os teus olhos, Fausto,
Não mais chorarão.

-       Agora. Que é que estás dizendo?
-       Nunca acerto no dizer.
enquanto me observas
posso engolir todo o vazio
percorrer distancias infinitas
e triturar o que sobrar nos dentes

-       Isso tudo é invento.
-       Melhor parte da vida é esta
que se pare por mera falta de acontecer.
-       Ponha-se nu.
-       Estou nu.
-       Então vista-se.
-       Feche os olhos e vestido estarei.

Se há realidade
Se há ser
Se há fato
Se há lucidez
Donde reside a loucura?
Nas vias escuras do amanhecer