quinta-feira, 26 de abril de 2007



a palavra não vem
meia noite e cinco
vou dormir sem ela
- pervertida

e com a pedra (no meio do caminho)

então, pequena, coma chocolate
que não há metafísica maior que isso



segunda-feira, 16 de abril de 2007



nenhuma vontade senão deixar o tempo ir construindo os espaços, com suas cores, seu lento sopro sobre as folhas do quintal enquanto tia sônia reparte uma romã e propõe uma degustação coletiva das sementes num pequeno círculo de pequenas bruxas debaixo da romanzeira, a rede dança com o corpo de paulo num ir e vir como vai a tarde, morna, morgana, dali o dia passa ou não passa, o céu uma redoma ampla de teto baixo, que quase nos cospe no espaço repleto de grãos e mais um pouco de existência para ser pintada num quadro cinza cheio de garoa, água de alfinete na pele que arrepia mas quer noite e seguimos em bando pelo asfalto, pequeno sopro coletivo de vida, encontrar pessoas, abraçar pessoas, beijar pessoas, a busca por elas e por mãos que se tocam, olhares que se cruzam, corpos que se encostam, sentidos que se cruzam na música que sai de omar, as noites, as tardes, os desejos se misturam, há já um aroma reconhecido, o regresso da afetividade, o reencontro com a afetividade, a memória da afetividade, a afetividade que surge da disponibilidade, deixar-se tocar num movimento lento, quase um torpor, um passo suave igual iam lá em cima as folhas do quintal


domingo, 1 de abril de 2007



um calor que não vinha do sol, era da pele, de dentro, do pé queimando dentro da sapatilha, agonia o suor ir-lhe tomando o pescoço, sente uma gota descer pelo seio, faz um caminho torto e vai se abrigar dentro do umbigo, é preciso ligar o ventilador, deita de frente, toma o ar na cara, as mãos percorrem o corpo para conter a umidade, um alívio aquela hélice fazendo vento para si, corre à cozinha, pega uma vasilha de gelo, traz para frente do ventilador, um vai para a boca, mastiga-o como quem tritura pedras, outro pega e vai pousar atrás na nuca, dali para a frente no pescoço, sobe pela bochecha até a testa, desce de volta pelo outro lado, leva-o até a gola da camisa, ela atrapalha, volta com o gelo para o copo, tira a camisa, tira o short, tira o sutiã, fica de calcinha, o gelo novamente em sua mão livre para refrescar-lhe.




O nome dela era Maria, eu sorri e falei o meu. João. João? Ela perguntou. Sim, João, respondi. Ela não acreditou, deu as costas e foi embora, como quem abomina o óbvio.