sexta-feira, 31 de julho de 2009

o dia se divide em dois
e os corpos
colados em espiral
deixam o tempo diluir o ralo da memória.

qual memória?
_ qual razão imprime a fórmula do desejo?
uma melodia, por favor - traga-a dos escombros.
uma melodia para despir o silênciocioso.

enquanto o amor dorme vestido de moleton,
enquanto as mãos do amor pulsam nos pés,
desvio, desvio.

deixe o mundo na fila, lá fora, gritar o tédio.
deixe o tédio na fila gritar o mundo
deixe lá fora o mundo o tédio
gritar gritar
enquanto o amor dorme esparramado no afeto.

cadê a chave que tranque o amor do mundo?
jogue-a pela janela.
basta aqui, neste habitar, o olhar

sombra
o olhar folha
o olhar árvore.

basta, para que o infinito caiba nesta cama
e seja a distância nula dos corpos
colados em espiral.

basta, para que não haja mais filosofia
só rendas.



domingo, 19 de julho de 2009


barulho de homens bêbados no térreo invadem a janela e rompem o sono no oitocentos e dois. a madrugada se acende antes das cinco. turbulência. o afeto está nas nuvens mas o avião ameaça cair. o longo corredor não tem saídas. área de instabilidade: aperte o que sentes! adentra pela porta o mundo, invade o isolamento do afeto: acusa. por favor, deixe o amor a sós, trancado no encantamento, esquecido do tumultuado asfalto. o afeto abarca a tortuosa certeza – nenhuma resposta brota da boca, só sussurros e salivas em beijos lascivos, manchados de mar. o vento nasce do olhar. da transparência brota um castelo. prostra-se a cidade abaixo dos corpos. cem anos passarão enquanto esta cama quente range. o universo gira para dois. o sol queima todos os planetas. as células incrédulas derretem-se: alarga o devaneio. um dia não cabe dentro do peito. faz-se necessário mais: o infinito. ACREDITE: oh, céus, em que? a verdade se prostra de quatro. se rende. se despe. só resta a relatividade. não há maturidade, mas a fruta pode de verde cair podre se não devorada a tempo. deixe que esta visão de domingo abarque todos os rótulos dos dias de feira. deste momento lindo, da janela em que os primeiros raios assolam as estrelas. elas se sabem eternas mesmo na ilusão da claridade dos dias? há lógica no tempo? insite do primeiro momento: pausa do movimento. ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar. há uma terceira e quarta perna que pesa em cima do corpo. quando disser já, balé sem ensaio. o oceano está contido na pupila dilatada do outro. invasões bárbaras declinam o império americano mas antes do amanhecer ainda há um segundo de conforto: velar o sono do amor. ouvir as gotas do transbordamento. então come chocolate, pequeno, porque não há metafísica maior no mundo. vinho às seis, em nome do (en)canto. socorra-me hilst, contra tanta bestialidade! mantenha-me insana para sempre, amém. a dádiva loucura. cuspir em toda insinuação. quebrem o protocolo, por favor, antes do fim do espetáculo. descosturem as cortinas. suspendam o álcool, antes que se firam, esses pobres tolos. e matem ainda mais. antes que eles mesmos se matem. mas tragam dos escombros um pouco de música, por favor. porque assim seca a realidade é por demais cruel! bjork, por favor. obrigada. agora sim: o avião pode cair. estou com os pés fixos no chão, mas as rachaduras brotam das bordas do planeta. a esfera terrestre se abre. talvez haja tempo de um flamboyant furar o solo. sim, só por mais uma vez, esta ilusão de ótica. vermelho, o flamboyant. pra aliviar este deserto de cores. não trema, amor! revisão da língua livrou-nos de tantos acentos. então não trema! ainda estou aqui. confie: o sol pode ainda nascer neste nosso oitavo amanhecer.


domingo, 12 de julho de 2009


há uma dor na felicidade, um estrangulamento, uma percepção da transcendência que oprime o corpo miúdo. é mais fácil permanecer na solidão do que no amor. na solidão o refúgio em alcoóis torna mais brando os dias, menos reais, mais fáceis de serem empurrados na ostração. no amor não. o amor traz a realidade da lua. e ela está ainda imensa no amanhecer da noite, cúmplice dos lençóis, ao lado das nuvens. e oprime um coração pequeno. o amor, encarnado no corpo, exige o ato de amar. amar dói. dor muscular, de coração, dor circular, de coração, dor rubra, de coração. é verdade manifestada no reflexo do olhar alheio. e a verdade redefine a pele. quer acordar consubstanciada no oceano encarnado nas águas do outro. um outro metade. um outro duplo de si. o amor quer viver debaixo d'água, sem respirar os dias, viver de forma líquida, mergulhada em pele horizontal. exige criação. faz os olhos acesos brilharem, as mãos fechadas se abrirem, as pernas cruzadas cederem, a boca faminta embebecer-se, os poros florescerem. o amor toma a forma do ar e se incorpora no vácuo, traz a dimensão da integralidade do espaço, não resta ocaso. é batida de bossa nova, orquestra de sensações. o corpo faz-se corda de violão p'ros dedos comporem sons. o amor parece menor quando não existe. e ser parece infinito depois do amor firmar-se. agora a eternidade existe. a alma existe. até deus pode voltar a existir: ele está perdoado! o amor é a negação do que não existe. a imanência. a extensão em fá, é o ser mais um. sinal de multiplicar. prato na mesa em dobro. e o medo da morte, infindável, parece até sumir. toma a forma dos olhos. abre-se o mundo. há redefinição do tempo. negação do tempo. não há mais tempo. só sucessão de estalos no peito, em tons aleatórios, susto contínuo para quem tem o músculo central exposto. uma noite inteira de olhar basta para renascer. depois, um domingo de febre. o olhar sem voz, o olhar silêncio, estendendo-se pela longa madrugada até transmutar-se em sol. depois, um domingo de febre. como deixar os olhos pra trás? um domingo em febre. o mundo espera quinze dias para reencontrar-se. e os olhos surgem novamente, agora muito próximos da retórica da sedução, da extensão do corpo nu. mas o olhar continua lá, como ponte de conforto, reflexo do primeiro toque, como potes de mel. pronto. não há mais ninguém na noite. não há mais noite. não há mais qualquer mais. apenas um outro que elimina a possibilidade de isolamento. um outro que suga a individualidade. a vestimenta. o universo confirma-se redondo na dialética do ato amar. sim, de novo a dialética aparece, meu caro geo! a dialética presente na geografia do amor. amar deixa o que é meu tornar-se theu. o outro é a negação das paredes. elas eram altas, torres de ilha grande. lábios nos olhos rasgaram os segredos. agora já não há mais parede nem solidão. o amor tomou a forma da vida. chegou vestido de chapéu e sobretudo. a porta escancara-se. o amor conforta as crises das madrugadas e vigia os movimentos noturnos. é ser literário. e quando canta abafa qualquer entendimento. não resta mais razão. somente olhos cantantes. tem a forma de árvore. será plantada, regada, cuidada. há grande chance de que o amor seja este pedacinho de terra simples, surgida para abrigar esteiras pra sentar e contemplar estrelas. há desejo de compartilhar um céu. este desejo é novo. é potente. desejo de comunidade e solitude.




segunda-feira, 6 de julho de 2009


ser-tão debaixo d'água:
solitude a dois...

[ainda bem que Aristóteles inventou a alma!]




quinta-feira, 2 de julho de 2009

tupi or not tupi that is the question oswald de andrade

quarta-feira, 1 de julho de 2009



1.7.09. uma lógica para o caos, por favor... um sete zero nove comprimidos para conter o sonho. sim, pode ser. dois? um sete zero nove. vermelhos. antiácido e antifebril porque a loucura tomou o corpo dessa pequena moça. vive agora sonhando com árvores, sombras e ipês, é só nisso que essa pobre tola pensa. hum. 1.7.09. e se tiver também algum que faça o coração mais manso, menos rebelde, bota logo três. um sete zero nove. porque parece que o peito de tal danada anda pulando e torcido. é bom ficar prevenido. tá formado um tufão de sentimento. ela bebe água pra espantar o calor, mas no sol dessa terra deus abana o que o diabo ferve. 1.7.09. ela tá com os miolos quentes. dê-lhe logo um sete zero nove banhos de água corrente e tira esse pano do pescoço dela, que só anda embrulhada - neste calor! - essa tal menina. parece que agora crê no que não existe! dá um chá de realidade nela! 1.7.09! pra vê se acorda e vai trabalhar. dê logo, antes que este fogo tudo queime. voltou assim, pobre coitada, desse são joão. e só pensa agora em voltar pro sertão. e fazer cinema.