domingo, 25 de março de 2012

transcendências




No principio era o Indivisível
inseparável do eu até o ato da criação,
que da desaparição do Todo
impeliu o Um a nascer.

O fragmento sopro de barro,
penugem de verbo deve esforçar-se,
posto agora como parte num mundo
amplo e adverso, ao despojamento.

Caído do pleno em razão
busca entendimento com resquícios
de paisagens distantes,
lembranças de antes.

Na terra esforça-se como semente desprendida
por afirmar o que foi depois de deixar de ser –
estado de movimento contínuo e invisível
que assim se pretende e em humanidade alardeia.

Bicho que foi inda antes de si, com
espírito de caverna rejeita o dado e
absorve o mais extremo
como o mais provável:

foge à objetividade rumo à afirmação
de um choque – forma pretérita
conservada lenda viva, manifesta
em rituais de fogo e renascimento.

A ponte é indecifrável
e por vezes basta a primeira infância
para fazer dormir o que
mais tarde ressurge em fendas.

Haverá isso no mundo?
Onde beira o firmamento?
O que é e pode não ser verdadeiro?

Feliz, pensa quem ousa depois,
é o ser do desprendimento
que deixa vazar uma rachadura
do real com o mundo.

Tudo o que não existe
existe.
basta ter olhos pra ver


Um comentário:

Renato Torres disse...

Fabi,

um texto que equilibra-se na linha tênue entre o racional e o subjetivo, talvez afirmando mesmo seu estado transiente... nada é certo ou incerto nessa seara de mudanças em que parece estar o sujeito do poema, tudo se perfaz ainda em processo, ainda definindo seus contornos. o paradoxo parece ter, enfim, seu lugar garantido, antes na vida que no texto...

um beijo

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