insônia na primeira noite. vizinhos trocam farpas rasgando o silêncio que se tenta reconhecer – o silêncio é a ausência de sons dos motores que ninam toda a trajetória da noite na rua da bahia. assusta de grande, a pausa de ruídos, vilipendiada aos berros, entre uma e outra nota, pelos gritos do casal histérico (como eu às vezes par?) pavor! sou capaz de me mudar para não ter que tolerá-lo (ao lado além e fora do corpo, no outro que grita; dentro do corpo o doentio e em mim amor). numa primeira noite isso apavora. quem já (con)viveu com desbotados rancores, entende... fora isso, um grilo engole o quase absoluto. consigo ouvir um eco de seu canto. e antes disso, no entardecer, pernilongos devoradores assaltam em dezenas, pelas janelas. mora num pomar, agora, ainda no Asfalto! laranjeiras, terceiro andar. em luto tanto quanto aliviada. o desejo de mudança, potente, exigiu um fresco lar. eleger um ponto: muitos cálculos. ponderações sobre o espaço. nostalgia antecipada pelo quarto-e-sala aonde foi perdido o medo de se ver só. cada casa oculta um trecho da travessia. um amor. ou muitas despedidas. centenas de solidões. certas opiniões. uma luz na varanda, um corpo novo estendido no lençol. fotografias embaladas em caixas velhas, sujeiras no canto da sala, geladeira vazia, miojo, banana quase podre. uma saudade do antigo lar.uma mulher de pouco caso.
dois bichos visitaram o mesmo dia. um ratinho miúdo que teve medo de ver e fugiu e um outro de linguagem, onomatopéia. um terceiro, além, na noite passada, chamado vulto, pode ser muitas coisas, mas crença é pros que projetam nascer de novo. não há lugar para as tímidas. prefere te ver nesta vida, mesmo ali na frente, na curva do sinal e do corpo já cansado. houve uma mensagem, mas todo signo já parece pequeno. o que fazer com a falta de sentido?
e agora compro mingau de milho verde, pamonhas fresquinhas, pamonhas!, pão e cebolinha na porta de casa. isso ainda existe em bh!. sou zona norte.
Um comentário:
Nosso tempo já é escasso por demais para perdê-lo no caótico trânsito da grande cidade.
Ganha-se mais que o suficiente num novo lar mais próximo do dia-a-dia do trabalho massante - vez por outra sutil-mente ególatra! É muito mais do que pamonha e cebolinha...
Vive-se mais...
Fica-se mais feliz!
Do lado de cá, agradecemos.
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