quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

sentimento de água. iemanjá


não consegue fazer-se desligar das palavras, mesmo aquelas que sequer querem se deixar entender, as mais banais, as mais chulas. lê um poeta novo e se entristece com a insegurança frente à austeridade do outro na forma do dizer. ou encontrou uma forma de fazê-lo tão sem defesa, tão sem nexo, tão sem verdades... pobres são os sentimentos, afronto à palavra.

de qualquer forma, rompeu com um método linear de narrativa, talvez por não querer evidenciar ou falsear um sentimento que é tanto quanto quer deixar transparecer: aberto, transitório, mutável, incompreensível. e no final pergunta-se: quem é este eu ou quem quer apresentar como sendo o eu a partir dos textos que mantém vivos, dos textos que compartilha, dos textos que relê compulsivamente num impulso eterno de reescrita, reanálise, reconstituição? no final sente o que resta: sentimentos que cria e falseia - mesmo os que geram olhar, mesmo os que geram toque, mesmo os que geram cafés, lábios e unhas -, nada fica, somente a escrita. a condição de escritora... e mesmo, como ousa dizer-se em condição de escritora? sente que o é mal, que é qualquer coisa exceto escritora, fixada no nada, como se somente o atingimento deste estado a salvasse do pavor de todo o resto. está enclausurada num quarto de espelho ou de vidro. e distante do verbo.


algo se quebrou.

e de novo relê o escrito. confirma: dá voltas em torno do rabo. deveria dialogar sobre política, sexo ou religião de forma objetiva, emitindo opiniões, citando especialistas. confessa: às vezes reproduz bem essas técnicas de escrita acadêmicas, mas mas mas. não é o caso agora.

sufoca o vazio, sufoca o não querer nada. no limite apenas ser uma andarilha com um notebook na mochila. permanecer 10 meses no mar, trabalhar uns bons anos na áfrica, praticar inglês, francês e espanhol na europa, escrever textos, grafar imagens num caderno, ler mais filósofos asiáticos. sonho pequeno burguês dos grandes!

agora está só em casa. seus amigos foram estudar possibilidades de intervenção. coletivo. esses sonhos, junto, a anima. nada resta a experimentar senão invenções de estórias,
gosto inquietante do desejo.

a arte ardendo cruel,
mas redentora.
.......................................força bruta.


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