terça-feira, 12 de outubro de 2010

FERIADO



está ainda bêbada, não exatamente bêbada de bebida, mas bêbada de acontecimento, completamente embriagada. a noite dura até de manhãzinha, quando ela já quase se não suporta. são dias lentos e intensos, com tardes longas que não se findam, desde ontem, numa espera de calor quente e hora quieta. comidinha boa, dá vontade de ficar, mas o dia de amanhã já guarda um vôo pra capital federal. drummond e clarice, por favor... parte pra quando? e os anéis de saturno? - ele não respondeu. ela sabia disso, mas ainda sim quis perguntar. a história é cíclica. os anos não servem para muito, só pra torná-la mais rarefeira. promete a si, sempre, estar inteira, mas esse vinho, meu bem, a deixa meio mole. uma jornalista da folha foi demitida por emitir opinião crítica sobre a classeA. isso enerva o sangue de um. tragédia do tamanduá. morte certa é no sertão. mas hoje não consegue ver muito claro. espera, espera. o quê, necessariamente? o dia passar, apenas, porque a noite está mais fria, respirável. queria pedalar, mas a preguiça não deixa. é bom feriado assim, que parece infinito, não acaba nunca, dura o sentimento do mundo, solidão de mil anos. chega paulo e se estica ali, numa cumplicidade de prosa e de se fazer calado, chega tio gildásio e come uma canjica, contado a vida de ser artista, e aí está jú, dando de comer pro pequeno jabuti. sabe não poder esperar nada, mas ainda assim espera um céu com percurso longo. e agora quando? três anos? três vidas? três tempos? tempestade. depois do furor, silêncio. a partida é sempre do lado de cá, bem como a busca, bem como a despedida. quando poderá respirar sem o peito arder? há molde certo pra cada percurso? está dito em cada olhar. ela não tem nada a dizer, mas disse muito, tudo que podia criar de linguagem ali. quer viver e morrer assim, em despudoradas escritas. viver é muito perigoso. essa noite existiu? ou sonhou que viveu demais? sonhou que não dormiu, suspensa do chão, mascando cenoura enquanto discorria sobre o novo filme e ouvia sobre o corpo musical. como é mesmo o nome da doutora de feira que a vai ensinar um tanto mais sobre sertão? que palavra é essa, o que ela carrega e porque a grudou em si? saudade do amor, saudade. hum, vontade de comer acarajé na última noite. papalo, vem me buscar!

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