quarta-feira, 23 de abril de 2014

antepassado


Então vem essa lucidez
só, que a passagem traz e
a perda reconhece.

esta lucidez catatônica
de uma nova língua inaugurada
sobre os dentes opacos da morte.

noite sim,
noite não,
sonho com ela
como para não deixar-me
mutilar.

tivesse mais um dia,
nada talvez
[poderia?]
ter sido diferente.

por hora o presente ruiu
apesar de tudo aí,
sol lua capim
e até meu sorrir
tudo feito ingrediente

na mesma medida
e lugar. vou dormir e acordar
[a mesma e em paz?] ciente,

olhos teimando em querer ver
o que se posta além do visto,

fuga do círculo do sentido
anunciado,
afogamento.

[a objetividade de um corpo num túmulo
é uma falácia. o que há é um passarinho ao lado, a cantar]

assumi um novo rosto
que andava às margens
com tanta pressa.

não há mais pressa no mundo
e nem apavoramento.

a minha raiz
é o que não será
nem foi,

um nome guardado,
um olhar mareado,
um cheiro de mãe.


Nenhum comentário: