terça-feira, 10 de julho de 2012




o homem cruza com trôpegos passos a noite.  dela deriva uns uivos de vento. adentra um atalho de pés descalços e pisa espinhos amontoados de cactos. junto vem sentidos de cego. fareja uma voz ao longe e pouca coisa o apavora, restos de aurora.

-       De pé.
-       Eu vou. Não diga mais.

um passo é dado. obscura expansão, transfusão de si. sangue gasto no outro. o horror metafísico do desconhecido se esvai com o olhar e nada ver.

- Os teus olhos, Fausto,
Não mais chorarão.

-       Agora. Que é que estás dizendo?
-       Nunca acerto no dizer.
enquanto me observas
posso engolir todo o vazio
percorrer distancias infinitas
e triturar o que sobrar nos dentes

-       Isso tudo é invento.
-       Melhor parte da vida é esta
que se pare por mera falta de acontecer.
-       Ponha-se nu.
-       Estou nu.
-       Então vista-se.
-       Feche os olhos e vestido estarei.

Se há realidade
Se há ser
Se há fato
Se há lucidez
Donde reside a loucura?
Nas vias escuras do amanhecer




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