terça-feira, 4 de outubro de 2011

atmosfera



hoje foi dia de cama. atmosfera de morte. caixas para arrumar, mudança pra fazer e o corpo não corresponde. isso talvez seja reflexo das coisas sacudidas? apesar de serem sempre pensadas, na maioria das vezes queridas, bate essa noite de insônia, de arrumação mental, de pensar o que cada tempo guarda, entulha, acumula, até ser varrido, lavado, renovado com as novas paredes. equilíbrio é conversa de bêbado. o nosso estado é sempre esse, de turbilhão. tarde de cama zanzando na rede do novo lar, prostrada. desisto de tentar fazer o que era necessário do dia, assumo a sua ruína, assumo que ele foi feito para sangrar. "o que fará até o fim do ano?" "esperarei ele passar." busco o rumo de volta ao quase antigo lar, tomo o metrô, vago cega, ouvindo os motores dos carros como gritos distantes. só a fotografia parece fazer sentido. passo o dia colhendo imagens. céu obeso de nuvens que ainda se seguram antes de chover, temendo o meu precipício - as chuvas mais me dissipam. dor. quero falar sobre a dor, assumir a dor, até que ela se dissipe (por hora!, porque ela regressará. é um buraco, onde caio com certa frequência). é sempre ela quem se manifesta na escrita, talvez porque só reste esse lugar, dentre outras pequenas formas, para se expressar. não a quero solta por aí, de conversa com qualquer um. muitos poucos a saberão. ela é uma flor de espinho. se basta. só para o menino triste, ao telefone, que sustenta o silêncio até a última gota, ela se abre, se escancara, porque não tem nada a dizer. é um buraco, insisto!, onde caio as vezes, sem perceber. um guindaste que me prende no ar, com as pernas soltas. uma dor de música. paixão cega, insana, perdida. overdose homeopática. é preciso saber domá-la, é preciso saber deixá-la transbordar em algum lugar. daqui nada se espera. basta saber que foi feita pra nada. deixar de temer assumi-la, deixar de querer floreá-la, deixar de se fingir contente. nunca quis ser poliana. felicidade é um estado a que aspiram os cristãos e há muito passou a achar uma baita sacanagem se querer eleita. quer estar entre os condenados. prefere o lixo. ou esse tal de deus abre as porteiras pra toda a sua medíocre criação, ou o negará até o fim. esse deus é falso. é perverso, é humano, demasiado humano. é menos do que ela mesma consegue ser. se deus consegue ser menor do que o eu, fico com os meus botões. o ego vale mais, é mais acolhedor. e já não temo sequer falar sobre isso. já carregou essa cruz por tempo demais. mas ainda insiste na terceira pessoa. o meu hospício é a terra. sou louca de jogar pedra. por isso me larguei solta, por aí. agora sim, às caixas de papelão.



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