domingo, 28 de agosto de 2011

antes de amanhã ser



ela está despida e observa os restos. sobraram as roupas espalhadas no pequeno quarto onde se apresentam por pseudônimos. o homem se vira pra parede e dorme, mas se surpreende quando a vê indo embora antes do amanhecer. é indiferente, mas não o suficiente para deixá-la sair por aquela porta. o conhaque, pare de beber! ele toma o copo da boca sedenta a perguntar sobre o poço. escuta sem responder e se lembra de outras circunstâncias, mais felizes e nunca existentes. os mesmos quartos vazios cheios de futuro com ele a retendo em paredes cheirosas. braços rijos e mãos largas agora encolhidos: não comportam quase nada do outro. pede que tire novamente a roupa. ela tenta resistir. deite-se. a mulher beija a face do homem e é com ternura que o faz. nele, secura nos lábios de florestas interditadas. mas ainda assim insiste e a retém, fazendo-a pensar que o fim anunciado possa ser desimportante. “talvez sobrevivamos". "sim, talvez”. o sexo traz sempre uma certa suspensão do mundo. dormem silenciosos. não são de longos diálogos. a mulher o abraça por traz e o beija a nuca. fica assim, grudada nas costas dele. acredita que os corpos sustentam um pouco mais do nós. a noite traz um miúdo de vida. mas ele não a quer patética, mulherzinha. "se toca, garota!" um deles se põe de pé. “vou sair um pouco, você vem comigo?” “não, acho melhor não”. bate a porta e deixa o outro de lado.

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