sábado, 23 de abril de 2011

ESTAR À MARGEM



fim de sábado. um sol se põe além da janela e estende-se em amarelo para dentro de casa. Ana me emprestou a cópia de um diário raro de ser achado, "Hospício é Deus", de Maura Lopes Cançado, uma filha da "tradicional família mineira" que SE (Vontade Própria?) interna em várias clínicas psiquiátricas e tem sua obra recolhida das prateleiras pela família, depois de lançada. ela foi uma das primeiras "safras" de pacientes a serem voluntariamente atendidas a partir da abordagem de Nise de Oliveira. Nise sempre me remete a Bispo do Rosário. e este me conciliou com os Leites - e sua (também minha?) mania de juntar quinquilharias (materiais e mentais...). somente depois de conhecer a obra de Arthur Bispo passei a sentir nostalgia do meu quintal de infância, com cômodos abarrotados de entulhos, onde dia e noite me sujava com a renca de amigos, eu feito moleque no meio deles, como numa masmorra perdida. hoje percebo o forte e raro senso de reaproveitamento presente em seu Jeovane, tio Gildásio e tio Grimaldo (amados e "esquisitos")...  mas esta nem chega a ser a mais estranha característica possível de ser detectada nessa família de mamíferos... 

estou com vários livros abertos, mas bastou espiar a primeira página e tibuf. Você tem razão, Ana.

idéias novas para novos contos. já não bastam os interrompidos... universo feminino. patologias. patologias? uma lucidez facilmente (facilmente?) detectável ou classificável por teorias psicanalíticas. as personagens não se cruzarão. e a voz será sempre em off, pois serão todas fortemente marcadas pela escrita e auto-análise. 


"Estou de novo aqui, e isto é __________ Por que não dizer? Dói. Será por isto que venho? _ Estou no Hospício, deus. E hospício é este branco sem fim, onde nos arrancam o coração a cada instante, trazem-no de volta, e o recebemos: trêmulo, exangue - e sempre outro. Hospício são as flores frias que se colam em nossas cabeças perdidas em escadarias de mármore antigo, subitamente futuro - como o que não se pode ainda compreender. São mãos longas levando-nos para não sei onde - paradas bruscas, corpos sacudidos se elevando incomensuráveis: Hospício é não se sabe o que,  porque Hospício é deus."



 



Nenhum comentário: