terça-feira, 29 de março de 2011

MUNDO PEQUENO













as mãos tateiam tímidas
e
oscilam como se.
despejam

pequeno não é o mundo
mas o arame que o cerca
e torna a terra pouca
o pão farelo
a fome seca

os dedos exigem verbos
mas há quem aspire felicidade

e você, tem fome de quê?

a mulher submersa -
retornará?

ela sabe encontrar (mais) sentido fora do apreendido -
é mister fazer implodir o muro, dilacerar o asfalto
disseminar o vazio
suprimir o dado
lançar a mão na sombra
fazer vazar o jorro
exterminar o medo
dispensar o tédio
a hora
a norma
o pouco

o seu silêncio
ecoa como sino dentro.
grita

quando o sono não vem
sobra a madrugada
e a lembrança do outro -
porque a utopia não é apenas um horizonte
mas o movimento contínuo de corpos

há momentos em que tudo beira ao precipício
mas chega a voz de um cantador,
chega o olhar de um visionário,
chega a lucidez de um artesão
e te empurra para um pouco mais de sol,
menos de si.

há noites em que os sonhos atropelam o descanso
e tornam o acordar difícil -
atravessar os dias
pode ser um passo

já os gritos da força, uma jaula.
você acredita que haja liberdade,
você até ousa a liberdade.
e vai.

sabe que não há fim da história.
no máximo, o seu próprio se
e a angústia que a oprime é
o que terá feito desta ínfima passagem
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"Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos" (drummond)



2 comentários:

augusto meneghin disse...

gostei muito deste poema... a última estrofe (mesmo sendo este um poema sem-fim para ser refeito a várias mãos) destrói essa babaquice pós-moderna de fim da história... posso estar enganado mas notei mudanças nesse blog... por onde anda excursionando?

um beijo

Fabiana Leite disse...

olá augusto, bom tê-lo por aqui! sua leitura me envaidece, tanto quanto seus textos me alimentam. acho apenas que deverias publicar com mais frequência - já te li inteiro! sim, sim, poesia sem fim, nada de fim de história e mudanças no blog (ou em mim, ali sutilmente anunciadas...) beijinho e volte sempre!