sábado, 13 de março de 2010

reminiscências



sou capaz de morrer. pulo do alto para experimentar asas, mas se a velocidade da queda abala minha respiração, paro. me agarro numa janela. de dentro, um outro, estranho, me assiste, quer ver a minha queda. ou, quem sabe, me estender as mãos. o sofrimento não cabe em mim. então estamos bem assim, neste intervalo. é exatamente aí que é possível sermos: na ausência de pesos. mas é um paradoxo... não ter à disposição, o mundo, quando o quero. deixo de querer. só desejo o possível. mas também por isso, aos doze anos me tornei vermelha: porque o impossível também existe, e serve para fazer caminhar. sensações se sucedem numa velocidade estonteante, mergulhando-me em águas nem sempre cristalinas, obrigando-me a lutar para ver e respirar enquanto esta mesma água densa e quase cinza, me aquece num calor líquido e me faz desejar a permanência. relaxo o corpo, deixo de lutar e percebo que assim, sem resistência, sobrevivo porque meu corpo sobe à borda naturalmente, trazido pelo oxigênio que ainda há em mim, mesmo que agora eu lute para me manter aquecida dentro, náufraga. o meu corpo sabe mais de mim do que eu mesma suponho saber. ele se manifesta sem que eu saiba, ele é, integralmente, minha anima e se manifesta em cada ínfimo ato. o olhar diz, a boca olha, os dedos respiram, o ouvido grita, as pernas escrevem, a pele pensa, a voz cheira, a saliva pulsa. e meu pensamento quebra tudo. é preciso não pensar, só ser. deixar o caos formar o cosmo. deixa eu ficar assim, convencida de que as águas são calmas e meu corpo se mantém sobre elas com o olhar fixo na primeira estrela que surge no céu noturno. tento fazer um pedido, de olhos fechados...






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