terça-feira, 26 de janeiro de 2010

(ibirapuera, sp)


Dias depois da noite-pesadelo, acharam o carro do meu amigo. Quem achou? Um outro seu amigo. Incrível as charadas do acaso a fazer-nos rir e respirar, como a Alice no Mundo das Maravilhas. Há dias não pensava outro pensamento, sonhos cruéis, com direito a metralhadora. Não resisti e comprei Arent, como quem busca através do conhecimento domar a impotência (vã jornada...). “Sobre a violência” é o título da sua obra, “a violência, no entanto, só tem sentido quando é uma reação e tem medida, como no caso da legítima defesa. Perde sua razão de ser quando se transforma numa estratégia ‘erga omnes’, ou seja, quando se racionaliza e se converte em princípio de ação”, mas comprei também Dom Quixote de La Mancha. Já é tempo, “desocupado leitor”, de ler Cervantes e apresentar-me a Sancho Pança, espero poder ser para ele personagem importante nesta nossa longa jornada. Os dias de São Paulo vão chegando ao fim. Sinto-me cansada de estar em túneis. E tenho pensado em alçar novos vôos, como se nada muito houvesse de sentido nesta breve escalada se não abrir os olhos em novos horizontes, deixando o Belo das Gerais, já conhecido, descansar. Cidades como esta que agora abriga meu pequeno ser tornam-me ainda mais introspectiva, sombria, melancólica. Não, não percorri a dita noite maravilhosa. Perdi o melhor, dirão. Sou das madrugadas solitárias, em quartos baratos e computador ligado, com música e álcool capaz de fazer-me escrever. Só. Vez ou outra, de tão rara quase nula, esparramo-me nas “baladas”, e destas poucas vezes, a cada cinco, talvez, em quatro mantenho-me estranha, ao canto, como olhar, apenas, a observar os corpos, os sons, os vultos, as fumaças. Por fim, na única que me sobra, creio saber degustar bem o tal sentido da palavra felicidade, me dissolvo inteira, danço, deixo-me olhar e seduzir, bebo, canto e transpiro, como uma mulher parece-nos ser ao perder o salto de cinderela. Não sei ainda o que induz ao movimento. Qual busca funda os passos e de qual raiz brota o princípio do desejo? É como se o princípio fosse secundário; como se a causa, necessária não fosse, apenas o ato em si, de ver-se em constante crise, capaz de levantar os pés e fazer colher novos passos. Passos novos ou eternamente retornados, sabe-se lá... Mas o que estranhamente é possível somar de toda essa subtração de dias é que, mesmo à exaustão cansado o corpo, há energia que empurra. Não necessariamente para frente, porque qual é mesmo o ponto-referência? O corpo se move. E quer ver o novo. E isso é tudo.




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