quinta-feira, 31 de dezembro de 2009



Amanhã serei eu mesma. Hoje não. Hoje ainda sou outra. Mas amanhã hei de me transformar em mim, hei de me transmutar no que devo vir a ser, hei de brotar deste tumulto. Amanhã sim, hoje, ainda, um pouco mais de tempo para o que deixarei de ser quando o passado houver me feito renascer. Amanhã, tempo novo, terei forças para a renovação, por isso usarei branco depois de ter pulado o segundo revelador, que me fará adentrar o meu verdadeiro eu. Amanhã, vestida de branco, me lembrarei remotamente desta última tarde deste estado de ser em que sentada no sofá da sala, de ropão de banho amarelo e sem grande encantamento, me punha a refletir qual o sentido do tempo. Amanhã, sim. Um amanhã despontando já no entardecer deste fim de luz, desta cidade água, desta cidade deserto. Inspiradores água e deserto! Amanhã prometo tornar-me menos ácida, menos nostálgica, menos febril. Hoje ainda, não. Hoje ainda permito-me contemplar a chuva (que não pára de cair nesta cidade). Amanhã me vestirei de branco, mas hoje ainda, me enfeitarei de vermelho e laço no cabelo, deixando pulsar o calor que a chuva não seca. Amanhã, sim, prometo. Serei melhor. Hoje, ainda, continuarei sendo apenas uma pequena que escreve. Tenho pouco tempo para ainda permitir-me o estranhamento. Permita-me, por favor, permanecer assim, meio perdida, neste resto de passado, nestas últimas horas que serão por todos, há pouco, descartadas. E se por ventura esta oração no amanhã se confirmar quando o ano novo despontar, serei outra. [Mas serei assim, ainda assim, eu mesma?]



2 comentários:

Matheus Augusto disse...

torna-te quem tu és sem pensar no amanhã pequena minha.

tio nietszche sempre me disse isso.
e agora o parafraseio pra ti.

feliz mais um dia!

Miguel disse...

Oi, menina, se ser vc mesma é ser quem eu conheço, prefiro assim...