sábado, 19 de dezembro de 2009
"eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. provavelmente a minha própria vida. viver é uma espécie de loucura que a morte faz. eu escrevo à meia noite porque sou escuro." (clarice lispector)
hoje o dia poderia ter nascido neutro. sonhei com guerra e literatura. um tiro me acertou as costas. acordei. havia uma estante de livros no breu. reconheci clarice, achada no sebo. adorável mundo novo, drummond, balzac. todos numa estante, 5,00 cada. feliz cidade. o ano parece chegar ao fim, mais uma vez, para os humanos. luzes acesas enfeitam e clareiam a madrugada das ruas desertas. os homens gostam de luzes nos rituais. o que fazer com o natal? temo escrever as verdadeiras letras, aquelas que poderiam traduzir-me e refletir a imensidão do caos que habita meu limitado corpo. temo te afastar de mim, com minha literatura de nostalgias. por dentro o sangue percorre o infinito dos segundos enquanto permaneço indagação, sertão. quando o eco encontra espelho, quando o eco encontra palavra, quando o eco encontra resposta, dialética, contraponto, é o silêncio que me molda. a busca por afetividade é apenas a ilusão do reconhecimento. tú és a minha afirmação, a minha exclamação. balanço-me de um lado ao outro, o vento como companhia singela e suave, ah, mas ter um corpo debaixo do cobertor, um corpo para abrigar o outro que tem pesadelos... tenho tido muitos pesadelos. de diversas formas e gêneros. a diversidade traduz os sonhos lúcidos. quando eu acordo, estrago tudo. bicho, bicho. bicho. o que é o universo? olho os soldados e não têm rostos, apenas marcas de lutas e preconceitos. as instituições são o reflexo das coletividades. me posto no centro do meu tapete redondo. não consigo mais rezar. não há mais quem possa me salvar, mas sei: o sentido é vasto e de tão amplo, não cabe no amém. as pessoas se assustam com as palavras inventadas para nomear as coisas. algumas junções de letras causam asco. outras, regojizo. as coisas não são melhores ou piores devido as palavras que as nomeiam, mas ao sentido dado, à sensação posta no enfrentamento da sua perceção. sou esponja. absorvo o mundo e me moldo. me deformo. sou eu mesma? ou o que fizeram de mim? tenho profundo prazer em escrever. profundo, profano, sagrado. escrever é rezar. rezar é gozar. gozar é profundo ato de escrever. não sou o meu ato, mas o reflexo do desejo. não sou o que vejo, mas o que espero ser visto, ou o que vejo como irreal disposto entre o olhar e o visto. por favor, permita-me chorar. só mais essa vez, permita-me. rebenta em mim o pranto, rebenta em mim o corpo, rebenta em mim o jorro. sou mais água do que o oceano o consegue ser. cuido da terra e a terra precisa de água doce para fazer brotar o oxigênio das plantas, para te fazer respirar. eu sou oxigênio. morrerei dentro de algum tempo. morrer parece insano. não ser parece suicídio. optei por desconstruir-me com a morte. não permaneço. me desfaço no universo. por isso pareço insana. por isso permaneço signo. a espera se finda em loucura. eu escrevo no escuro porque sou noite. porém agora é entardecer de chuva e trovão. um raio cinza corta o céu, cheio de luz. enquanto isso um menino tenta captar o instante da chuva em minha janela.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário