sábado, 19 de dezembro de 2009




hoje o dia só existe para ser escrito. se pudesse, o faria até o infinito, até desfazê-lo integralmente, até formá-lo, átomo por átomo, imagem. escrevo em minha pele o desejo; em meus panos, pudores; em meu pescoço, minhas forcas. e essa música ... queria poder te tocar mais, porém algo de pudor impõe limites. não aprendi a ser melhor do que isso. estranhas me parecem as vozes que ouço. há uma infinidade de acontecimentos possíveis para a noite - um café, um bar, um encontro, um filme, um livro, ar da rua chuvosa, mas sucumbo. ler não melhora nada, ao contrário, me afunda mais na cachoeira de mim. não tenho fundo. posso chegar a perder-me enquanto juro percorrer a busca. encontrarei sempre retiscências. todos os personagens que me tomam a voz parecem uma extensão, parecem uma alusão às minhas infinitas formas de materializar-me. olho pra você e me vejo mais do que posso ao estar diante de um espelho. sou mais eu em você do que em mim. sou mais de mim quando te ouço. viver não é um consolo para o infinito, viver é o absurdo da dúvida, da incerteza, da possibilidade de perceber-se. nada há pra dizer e quanto mais percorro esta certeza, mais viceral se torna a literatura. a ciência se torna um exercício da dialética enquanto a literatura, uma oração. o verão chegou com chuva. as águas me ferem. é difícil se manter unidade quando a cidade inteira se molha. não é possível ser outra coisa quando os dias parecem inundados na chuva. não consigo permanecer lúcida na chuva. me recolho. custa-me muito fingir-me seca. estou em vias do absurdo.




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