sábado, 28 de julho de 2012

O ESTADO DAS COISAS



De tanto que observo me toma uma visão

em que o ipê da Liberdade,
despido, magricelo, carrancudo,
tendo como fundo Niemeyer
curvo, preamar, arco-íris
esconde olhos
de janelas recém acesas do entardecer
íris de voyeur reticente.
Me toma cobiça aquela vida de olhar de cima
tão classe-média, contemplativa, literária
ao contrário de mim,
transeunte da praça, de olhar
baixo, sonhador, proletário.

O meu coração parece grande, mas é líquido
e derrama fácil fácil
quando
qualquer um diz que me ama
– eu me apaixono como água.

Vejo agora deste ponto da mesma praça,
debaixo da árvore sem nome,
o moço-negro-da-flauta tocar clube da esquina
enquanto um casal se beija e me mata de inveja
– vou até santa tereza nos tempos da centelha vermelha

Acredito que posso reter este céu
lilás estrelado de palmeiras
e dizê-lo a qualquer um
com qualquer palavra
– retenho o que vejo para que vejas através de mim.

isso mesmo: a utopia existe e se renova

Então não é por muito que me deixo,
mas pelo ínfimo. quase me atropelam.
Dú sempre diz pr'eu olhar p'ro lado
“vais morrer atropelada!”
Estou com má digestão do mundo
mas como fazer, Maiakovski,
na falta da primavera?
Fabinho diz que vou surtar,
pra ele ando pisando em nuvens.
Como deve ser o caminhar?

Enquanto não sei,
soletro:
ô vida besta, meu deus.




2 comentários:

Miguel disse...

Me escreves? Quem sabe em Santa Teresa posso ver o mundo através de suas letras?

Fabiana Leite disse...

a sua Santa Teresa será sempre a minha centelha vermelha! e os tempos de formação marxista no convento, lembra Miguel?! beijo, camarada!