o
hálito de vinho da noite no terreiro se estende da boca ao corpo inteiro. intacto. embriagues
em excesso de letargia como um navegante em canoa de peroba rumo a ítaca a se
deixar guiar por céu nublado. pescador de tufão, peito nu banhado em sal. no tapete do salão um violão
estende canto pra orixá aquietar os rumos incertos d’um coração, deserto sem
provisão de ventos, estrada. a percussão faz soar um rasgão de céu. sensação de
faltar mãos toma o pulso, um murro na madrugada, espada. quem te livrou de
tanto mal em noite de pranto, acalanto, rio sem ponte, estiagem. o som um estertor,
arquejo de fome. este caminho é dos que afundam quanto mais se nada. passa
alfazema, se benze com erva e beija a mão da santa - reza não te livra de males
mas distrai dos pensamentos, dá passagem. enquanto a moça dança o cantador
afaga as cordas e olha os pés bonitos dela no chinelo de couro a tirar poeira
do chão. arrumação no peito é deixar vazar segredos, rasgar a alma e se
entregar. água que nasce na seca morre antes de conhecer o mar. coração de
retirante é calmaria que antecede pororoca, banzeiro em equinócio. a madrugada
se estende vazante de semente, ruína,
escombro. comitiva de oximoros, pés descalços. tú caíste de um ninho, passarinho de olhos grandes amedrontados. parece grande, parece forte, mas é menino. tem medo de que? sombras de pressentimentos, sombras. átomo a tremer. medo de que? sorve essa pena, absorve essa dor e arrebenta. corre dentro da veia sólido desejo, deixa escorrer o afeto, deixa sangrar um afago. ninguém cai só quando quer. se quer ir, vai - ninguém é sem saber. mandinga de amor, se é pra doer, dói.