este
desconforto,
Zé, de te saber longe tem hora que pesa mais do que pouco tem hora
que se estica pro norte procissão pras colheitas penitência de chuvas.
mas o tempo some quando o vício de querer
despenca a dor – fico grande na sua boca te tiro de ouvido te rasgo em
olhar de
quente me firo. você sabe o quanto cresceu de água a sua nascença? num
era eu
n’outro dia – era você querendo me ver. não se cansa nunca, amor?, vem
deitar.
(aprendi a dormir respirando você) tudo morreu três quadrados quando
suspendi o
braço em adeus. no cosmo mais uma estrela jorra morta pra milênios de
luz.
empresta ao meu corpo sua rede, deixa eu dormir na tua toca nunca mais
tive
sombra tua falta esse desmantelo de sol. saí do meu campo claustro e me
prostro
gentil dentre suas coxas - consigo ser mais que uma puta. bobagem. me
lambe a
boca, me impede pensar. Zé, apaga esse diabo de luz, vem deitar. sumiste
há algumas
eras mas vou te encontrar. agora esse lápis sem ponta fora do corpo sem
salvação. no músculo ainda se veste um resto querer. nos dedos buracos.
haverá
tempo pra isso no mundo? o que pensa plutão disso tudo? um desvario
atravessa o
ventre comedido prostrado. eu sou negra índia perdida nesse resto
caatinga. você
nada disse e eu silêncio fiquei. só soube depois. os teus ciclos ainda
aqui. ontem com fome cozi feijão e comi com vela me duplicando
sombra. quando te conheci um rio corria embaixo de nós. entorpecimento
nos pés.
ninguém passava ao largo escuro havia uma ponte um céu de concreto no
seu fitar
e eu pensava que era preciso mas já agora não posso voltar. havia dor no
mundo
e inda agora e amanhã haverá. tento explicar, não consigo. quando você
virá?
a rede está vazia na sala. Zé, vem deitar.
Um comentário:
Fabi,
Que texto poderoso, encoberto de nuvens de tempestade, evocando uns longas de Guimarães, mas sendo cada vez mais Fabiana, cada vez mais terreno e enraizado! Eu fico fã.
Beijo,
r
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