sábado, 25 de junho de 2011

o vento o vento e só


Um vento brame 
a montanha geme
e sacode o mar
- um barquinho zonzo 
pode afogar

enquanto isso,
uma imensa nuvem de  quadris largos,
vestida de rendas de rosas nas bordas
toma o céu da pequena enseada
e se roça inteira na montanha costeira, 
lambe suas folhas,
seduz seus troncos,
cobre o verde de orvalho

Quer repousar
cansada que está
da longa descida das bandas de lá 

Invejoso,
o veloz vento do norte,
que chegou primeiro,
e  se banha escondido no meio das rochas
uiva furioso e lança num sopro
a gorda e majestosa nuvem
para além mar 

Ela não desiste, resiste, insiste
e vem ao som dum bolero
escarnecendo,
espezinhando,
numa mansidão que entorpece e convence

O vento aos poucos 
se acalma pra ver o tempo da nuvem - bem diferente do seu...
encosta sua tez franzina sobre um coqueiro 
e sem perceber, talvez só por intuir,
pela primeira vez
 se deixa contemplar um poente.
Depois dorme,  
cansado que está de ranger por dias 

Quando ele acorda, no amanhecer
a pálida senhora sumiu,
se dissipou.

Da fúria que rege o vento
ele sacode o mar, 
faz nascer as ondas
cospe no barquinho zonzo que ainda dorme, 
e que sem nada entender, 
e mesmo sem saber porque,
se afoga, se afunda.

o vento agora e só e vento.



Nenhum comentário: