Um vento brame
a montanha geme
e sacode o mar
- um barquinho zonzo
pode afogar
enquanto isso,
uma imensa nuvem de quadris largos,
vestida de rendas de rosas nas bordas
toma o céu da pequena enseada
e se roça inteira na montanha costeira,
lambe suas folhas,
seduz seus troncos,
cobre o verde de orvalho
Quer repousar
cansada que está
da longa descida das bandas de lá
Invejoso,
o veloz vento do norte,
que chegou primeiro,
e se banha escondido no meio das rochas
uiva furioso e lança num sopro
a gorda e majestosa nuvem
para além mar
Ela não desiste, resiste, insiste
e vem ao som dum bolero
escarnecendo,
espezinhando,
numa mansidão que entorpece e convence
O vento aos poucos
se acalma pra ver o tempo da nuvem - bem diferente do seu...
encosta sua tez franzina sobre um coqueiro
e sem perceber, talvez só por intuir,
pela primeira vez
se deixa contemplar um poente.
Depois dorme,
cansado que está de ranger por dias
Quando ele acorda, no amanhecer
a pálida senhora sumiu,
se dissipou.
Da fúria que rege o vento
ele sacode o mar,
faz nascer as ondas
cospe no barquinho zonzo que ainda dorme,
e que sem nada entender,
e mesmo sem saber porque,
se afoga, se afunda.
o vento agora e só e vento.
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