segunda-feira, 6 de junho de 2011


tem vontade de pessoas. quer sê-las, quando a encantam. há uma certa atração, quase romântica, leve, fluida, um ímpeto de aproximação, um jeito de ser um pouco o outro, de respirar seus ares, deixar entrar sua voz, perceber o movimento do corpo, o ritmo do passo, a inclinação do sorriso, a permanência do olhar... há pessoas que quer apreender, escrever, fica assim, numa certa paixão, que já não assombra. movimenta, impulsiona, exige representação. uma paixão não necessariamente erótica, talvez mais literária e musical (o literário é musical), de quem vive um êxtase que exige letra ou nota. nada do que vive pode ser verdade, senão o desejo pelo irreal. quem sabe ainda está aprendendo como entender... quando se corre com os dedos em busca de um novo som, há necessariamente que se abrir para a composição, para a possibilidade.

como é o lugar
quando ninguém passa por ele?

tudo se combina, não há plano secundário, impressões múltiplas sobre sentidos e desejos, como se o tempo antevisto por deleuze agora fosse mais pleno para ela.

Delfos...
ou
um pequeno odisseu.

sem sono, a noite pede para escrevê-la. ligeiro temor causa esta vontade repentina. dar um nome para a sensação... sim, estilicídio! perceber com mais intensidade as relações de ser com tudo o que já é quando se deixa perceber – nisso talvez um pouco de Tao

primeiro pela retina, imediatamente pelos tímpanos, arrepio na epiderme, pulsação no peito esquerdo. depois do corpo, sabe-se lá por onde anda.

espera que [não] o tenha atado direitinho...


e sem saber para onde olhar
que também o canto

e o que dizer
que também a boca

e se choro ou rio
que também o mar.


"Ainda é cedo, ou quem sabe cedo é acordar...
quem sabe ainda é medo(...)

(...) Quem sabe se ainda é morna a água desse rio,
Se dele saindo sinto frio.

(...)Minh´alma afunda,
meu corpo flutua nestas águas
Como se o rio me dera asas... 

_Sou argonauta sem mapas nem destinos.
Quem sabe sou ave(...)
Ou quem sabe Sou apenas
uma dúvida a naufragar poemas(...)" j.


retorna às pautas... 
(já não tão bem atadas as mãos...) começar um novo fluxo, depois de novas impressões, que são também as mesmas já vividas. te encontra ali onde apesar de buscar palavras, elas faltam e resta um tempo ínfimo de silêncio que a suspende no ar, como folhas que voam sorridentes no seu pulo suicida, embaladas pelo vento e contentes quando um olhar encontra a dança na atemporalidade da queda. será que haverá uma mão logo ali embaixo para abrigar a flor? a (sua) mão terá sido um presente (a gratuidade dos gestos despretenciosos), porque a queda vale por si. segue em passos miudos, minueto...  Em queda livre, em calmaria... Por que vieste? Mas a vida já estava... Por que apareceste? A vida já me olhava... dúvidas às vezes tanto sobre o acaso, quanto sobre o dever-ser dos acontecimentos... será mesmo acaso ou o desejo que lê e fuça? será mesmo a ordem natural das cousas ou a ação mediante a vontade? o movimento é suave... e tem seu tempo, como há o das águas, o das chuvas. a moça ouve o ritmo do pulsar e vai. 

a música cessa quando queremos deixar de ouvi-la. 


a distância... distancia?...


confirma-se a suspeita no peito:
pode ser que a felicidade seja isso mesmo
o tempo das folhas

e dói um pouco ser tão pequena
mas às vezes é bom, que cabe nos pequenos cantos
- se esconde em ti sem que percebas 

hoje nada mais sabe...

decreta por fim a liberdade...

és livre, e o coração se desdobra mais em ser asas...

pensa no ser que disse ter sido criado, um ser indefinido, às vezes nublado, incorpóreo, assexuado... pensa se ainda não o envolveu com as linhas que borda desde o momento em que se sentou ao seu lado... pretendia um belo cobertor para envolver faíscas. não sabe ver este terceiro ser, sabe reconhecer apenas dois, sabe ver o ser que é e o ser que busca através do outro, e pede corpo.
mas o corpo também é literário.

não se assuste com as letras. pode ser objeto de pesquisa, de análise, apenas. tentar explorar ao máximo a sua resistência – ou o seu alheamento?... quem mandou compartilhar uma arma tão poderosa?



e o que escrever, se tudo pode ser considerado apenas objeto de estudo para futuras narrativas?


Um comentário:

Miguel disse...

Gosto de te ler. Mesmo q eu não entenda tudo o q vc diz. rsrs

Gosto tb de ver seu blog. Suas fotinhas ao lado. Tem uma com o seu olhar. Me faz sentir saudades de ve-los de pertinho.