domingo, 22 de maio de 2011

de dentro da cachola


a moça jamais saberá por que ao homem era próprio as interjeições que a mantinha em suspensão, aprisionada na possibilidade de uma letra, de um nome, de um beijo, de uma mão, de um gesto. jamais saberá porque a anunciação dos lábios sempre esteve retida na reticência dos ruídos, nos desafinos das distâncias, nas  prisões das esperas. o gesto puro, soube existir e quase o tocou quando do último encontro, mas se perdeu no leito do rio para o silêncio. curvado restou o desejo, ante a força da ausência, do vai e vem dos dias, da imaginação frustrada. as páginas em branco eram cheias de possibilidades - viagens de trem ao mar. saberá reconhecer o cheiro das páginas guardadas há muito num sebo? reconhecerá as palavras, mesmo aquelas já vazias de sentido? desassossego. o bom é ler um livro novo. achou O Amante do Vulcão de Sontag na estante. vai ler pra aliviar as idéias, que andam fracas. o céu é o mesmo e talvez tenha havido só uma ligeira coincidência, mas essa brincadeira do caos corrompe toda a lógica que tenta ela imprimir aos fatos - não é possível ser razoável deste lado do espelho? ele anda distante. é noite de domingo, há um silêncio na rua, um frio na cama, um bem estar de solitude com esse chapéu novo. um excesso de confiança no que virá, uma força que a empurra além - reconfiguração do que se pensava em desarmonia, reposicionamento dos signos, reorientação de sentidos e afetos - que sejam antropomórficos e absurdos, desde que imprimam o mágico, o lúdico, o verso. quando a vida parece (de)codificada, é hora de escolher uma chave nova, alice.



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