sexta-feira, 2 de julho de 2010

A sombra (ou poesia sem vida)




As luzes
que iluminam a sala são idênticas
             
                não
são idênticas



A primeira,
ao lado esquerdo,
elétrica e vestida de abajur vermelho,
clareia as mãos que a teia tecem.

A outra,
aos pés do sofá, de fogo,
equilibra-se na borda da garrafa verde
enquanto lambe dentro,
merlot, o vinho.

A luz aveludada –
pois dela me sirvo e
não do cálice
tornado desejado porque descrito;
à direita,
feita de cordão queimado,
não serve para fazer ver,
mas para aquecer os membros
já iluminados.

Uma terceira resta ainda à frente,
branca e fria,
da tela que reflete
o que possa perseguir os dedos.

Atrás, na parede,
alheia a temperatura e pressão,
sem calor nem cor,
projeta-se uma onda silenciosa de movimento
do inverso que as habita.

é única.








2 comentários:

Miguel disse...

seus olhos me trazem um novo mundo.

Fábio Carvalho Fernandes disse...

"os membros iluminados" são os meus que encontrou em ti a vida de uma nova vida. Se vivo é porque vivestes primeiro, por seres única é o que me faz também não me sentir nesta vida um terceiro. Obrigado por seres luz... por viveres por inteiro.
Um grande xero.