Aquela que não quis tomar assento
e quase naufragou no mar
e quase foi atropelada
e quase morreu de dor de amor,
passeia na solidão redonda da multidão
e no eu florido de asfalto.
A sem-lugar nas ilhas desertas dos bares abarrotados,
aquela que queria fugir em dia de jogo
e não voltar nunca mais,
a descontente, a escorregadia, a introspectiva,
a ensimesmada,
aquela que foge sempre em busca de buracos,
que se tranca no quarto
no escuro,
cortinas cerradas e música
pra inundar o espaço da alma.
Aquela que não cabe na solidão
e nem cabe na palavra,
que não é um ser,
mas um estado de desfazer-se contínuo,
com leves sopros pra aliviar,
como quando o olhar mudo de um andarilho lhe desmascara um conceito.
Aquela que sofre porque não entende
e retorna sempre às mesmas questões complexas
com leves sopros pra aliviar.