In principio erat verbum.
Tenho a sensação da exatidão maníaca de linguagem, apregoada por Barthes, em O prazer do texto. Aquele sentimento de embriagues do tropeço, de imprevisão do desfrute, de sucção sem objeto. Rirás: exponho meu texto suicídio. Quanto dele, que configura mais minha existência do que a carne imprensada do meu corpo, será tido como parte essencial de mim? Incansáveis laudas, desde meus dedos curtos de criança, cadernos empoeirados, acumulados, empilhados como árvores desmatadas do meu eu, folha por folha, me arquitetam. Apresentam-me o mundo: são códigos em colisão. Não estamos aqui pervertidos, mas implicados. A escritura não é uma tentativa de afirmação, mas a afirmativa da insuficiência. Não sou, para o inexistente leitor, senão linhas fantásticas e irreais, metamorfose em expansão. Ser elucidário, mas derrisório. Além, erótico: o texto deseja, flerta, seduz, tesa, devora. O que há de sensual na escrita é a insinuação do corpo, plástica de signos. A manifestação escrita do mundo é ilha que deixa escoar terra p'ro mar, grão por grão, ato contrário à expansão do território mas atração gratuita pela imensidão líquida do movimento. Hemorragia. Estilística de reinvenção do mundo. Logosfera do caos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário