segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
sábado, 8 de dezembro de 2007
não há existir sem imaginário. a palavra descasca o real e me transforma em multiplicidade. a palavra me destranca e sou o que não serei nem fui. mas falta um grito, um último grito que me destrave, que me destaque, que seja em mi; há um grito uivo, um grito gesto, um grito escárnio, um grito música, um grito verso. há um grito ainda não-palavra. sei que virá já-já. depois dele, eu.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
sábado, 8 de setembro de 2007
sábado, 18 de agosto de 2007
sexta-feira, 27 de julho de 2007
O silêncio ronda a casa na primeira pessoa do singular. deserto. abandono toda e qualquer multidão. o monólogo produz minha literatura. verborragia de solidão. um dia talvez te alcance, hospede gotas no corpo suado. enquanto talvez amanhã não chega, a canção, produzo conjugações. as palavras, digo-as sem saber se te alcançam. não quero alcançá-lo, quero cantá-lo – palma com palma (ventre com ventre). digo para que a linha produzida ilumine um horizonte – a letra junta ilumina. trago-te por ela. da tela, com pincéis, traço tua tez, deixo de estar só, apesar de saber ser (só). digo que não, que meu castelo de folhas escritas me integram. no máximo dão-me mais consciência do tamanho do fim, que não tem métrica, que não tem ponto. consumo letras, bebo-as como leite quente, vicia-me, cafeína (quero ainda tomar-te). me oprimem mas não os abandono (os signos). tento desapegar-me, danço com olhos cerrados, meus cabelos em pôr do sol, cordas soltas de violão. suo, umedece a epiderme, exige nudez, dispo-me. toda nudez será, toda nudez já é, castigada toda [segredo]. enquanto o mundo roda, enquanto todo movimento comprova o infinito, eu me tranco para que não me percebam. tento equilibrar. paro palavras, minha máxima maternidade. levaram nove segundos para compor-se. prematuras. passarinho. exijo que elas me digam. há eco, sinal de espaço vazio. tombam em pedra e voltam. tropeços. havia-os, calhaus, no meio do caminho. insisto, sei da possibilidade. intuo. há mais que feixes de luzes trombando pedras - quando se integram, estrelas.
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Quando o dedo pousa o umbigo um uivo vai ter com a lua. A lágrima jorra dos poros, o olhar, intacto no teto, tenta definir a cor da luz, não é de um amarelo ouro, talvez um pouco mais tendente ao rubro, fechou, pequenas minhocas piscam no breu, coloridas. Talvez fosse isso o infinito, ó deus dos incrédulos, ó divindades dos ateus, se é isso o fim supremo dos eleitos eu acredito no paraíso e, egoísta, quero ser escolhida. Abre-se as pálpebras, a parede fixa o limite, situa-se no mundo, há asfalto do outro lado, a terra lhe retém, olha ao lado, há um corpo que também olha, que também pensa fixo na retina. Volta ao mundo e nunca sabe de onde vem. Quer apenas lá, intervalo de luz.
terça-feira, 26 de junho de 2007
terça-feira, 19 de junho de 2007
domingo, 17 de junho de 2007
- Brasília talvez abrigue minhas veias.
Meus desejos, em curvas, encontrarão Niemeyer.
flores
espalhadas por toda a cidade
reclamam uma cpi
- proibido regar (sem exceções)
A porta se abriu.
O amor se fechou?
A capital dos ministérios me parece grande. Assusta
meu jeito canhoto
- talvez me perca nos seus caixotes
(Lispector me diz horrendas impressões sobre a cidade)
Mas há um imenso céu
e um coração que ainda pulsa (baiana e) mineiramente
[é possível que eu sobreviva].
Amanhã Leila Míccolis abriga-me na feira do livro
- conforto poético que inunda ruídos.
terça-feira, 12 de junho de 2007
sábado, 9 de junho de 2007
De tudo, talvez, pouco tenha ficado,
um pouco de medo. Um pouco de restos
de gritos. Do amor
restaram poucas pétalas.
que entra pela persiana.
Da boca que se abre
pouco se retém,
quase quase não se vê palavra.
se vê nas coisas pelos cantos,
o sapato ainda entocado com lama,
a flor murchou
hospede alguma bactéria
e sobraram alguns livros
abertos na estante
insinuando restos de poesia.
sobra, sempre sobra farelo
e talvez seja possível fazer uma última refeição.
espero da língua
mais que silêncio
e pode ser que haja no copo um resto ínfimo de álcool.
um pouco ainda de pesar
pela fotografia.
A música tocou.
Sobrado, haveria, um resto de mim?
que a cidade abriga mazelas
- posso ainda esbarrar pelos teus pés.
domingo, 3 de junho de 2007
terça-feira, 22 de maio de 2007
domingo, 20 de maio de 2007
terça-feira, 15 de maio de 2007
quarta-feira, 9 de maio de 2007
segunda-feira, 7 de maio de 2007
domingo, 6 de maio de 2007
quarta-feira, 2 de maio de 2007
quinta-feira, 26 de abril de 2007
segunda-feira, 16 de abril de 2007
domingo, 1 de abril de 2007
terça-feira, 20 de março de 2007
terça-feira, 6 de março de 2007
sábado, 3 de março de 2007
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
ainda um tempo nublado, igual ia ela mesma. a noite parecia querer chover, mas apenas aquela umidade das nuvens carregadas desciam do céu, esfriando e molhando o corpo, a terra, o vidro da janela e a retina dos olhos. os dias pareciam irreais, havia uma sensação de não-participação, de não-integração, de escorregamento, como se as atividades cotidianas fossem arrastadas de um mecanicismo que sequer sabia de onde provinha. quem produzia aquela comunicação que estabelecia com o mundo? quem acordava e se punha integrada em cada movimento? quem ia empurrando os anos com tanta determinação, permitindo mesmo a estúpida sensação de estabilidade em tudo? quem, se na madrugada um profundo desprendimento a possuía? quem, se sentia de forma mais acentuada uma solidão harmônica, que lhe preenchia de força para mexer-se na ordem fútil das cousas, como se a certeza da falta de valor de tudo a fizesse mais íntegra para poder constituir cada gota da ínfima existência com o conteúdo que ela mesma quisesse dar.
sábado, 24 de fevereiro de 2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
para o carnaval:
Lucia Murat: Quase dois irmãos
Eliane Caffé: Narradores de Javé
Cláudio Assis: Amarelo manga
Karin Ainouz: Madame Satã, Sob o céu de Suely
Toni Venturi: Cabra cega
Sérgio Machado: Cidade baixa
José Eduardo Belmonte: A concepção
Eduardo Coutinho: Edifício Máster
Luiz Fernando Carvalho: Lavoura arcaica
Rodrigues Gonzáles: Amores brutos; 46 gramas; Babel
Richard Limklater: Antes do pôr do sol; Antes do amanhecer; Waking Life
Michael Winterbottom: Songs; Código 46
Spike Lee: A última noite
Denys Arcand: As invasões bárbaras; O declínio do império americano
Kiéslowski: A liberdade é azul; A igualdade é branca; A fraternidade é vermelha
Zhang Yimou: Herói; O clã das adagas voadoras
Ki Kin Duk: Casa vazia; Primavera, verão, outono, inverno...e primavera
Se Hayao Myazak: O castelo animado
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
a mulher abriu os olhos assustada com o dia que até agora nada. o tempo pulava corda, esquecido do mundo e da tristeza presa na noite. dez vezes se levantou da cama para olhar pela janela algum rabisco de branco no céu, mas ainda as estrelas a dizerem que por ali somente havia madrugada. resolveu encarar o breu, pondo-se dentro de um xale. desceu a escada, seguiu pelo corredor, indo em direção à cozinha. abriu a porta e sentou-se no degrau que a levaria ao quintal. havia um grunhido de bichos noturnos e já o som de galos a marcar quatro horas. enlouqueceria antes que chegasse às seis se permanecesse à cama. impossível acreditar que tão pouco tempo havia se passado desde que se deitara. lembrava-se ainda do momento em que no entardecer. ele não deveria tê-lo feito. pensou em ir embora, mas não poderia com medo de ser percebida, de deixar perceberem o corpo teso, antes era preciso adoecer, sim, uma doença qualquer que a tirasse dali, uma febre, garganta, pé quebrado. permaneceu jogada no que restava da noite quando sentiu um vulto atrás de si. 'ouvi uns passos no corredor, imaginei que seria você.' ela se levantou, cruzando os braços como quem fecha o corpo, sentiu a maré de sangue vir desaguar no peito, olhou por um segundo para o homem, deu um passo desviando dele o corpo para ser retida adiante pela vontade de permanecer. não fugir, pensou. imobilizou o corpo num ímpeto, dando um passo para traz para voltar para ele novamente a face, ele estendeu os dedos, pousando-os na nuca da mulher enquanto olhava para o corpo procurando caminhos a ir ter com as mãos. Desceu pelos ombros com os dedos escalando as tiras do xale até ter lá embaixo a pele lisa e livre de panos. Dali desceu à palma da mão. A mulher permanecia à sua frente, agora de olhos voltados à mão, como quem quer ver, mais que sentir.
domingo, 21 de janeiro de 2007
sábado, 20 de janeiro de 2007
o dia seguirá lento pedindo cinema e praça. a cidade de sábado parece mais vagabunda, de perna aberta, querendo amar. tentar avistar na calçada o mendigo que distribui folhas na esquina da Liberdade, visionário mudo que espanta o padrão branco que por ali passa. recebo sua folha, busco seu olhar, que nada quer dizer senão mesmo sobre a folha, a entrega da folha, o ato verde da doação. os carros passam, passam, me enervam, sonho uma cidade sem carros, talvez somente jegues, bicicletas e no máximo trens. caminhar, caminhar, caminhar, avistar o mundo na velocidade dos pés. pé de chinelo, de sapatilha, pés descalços na terra vermelha, voltar ao mato e respirar o vento molhado do rio. Velho Chico que não me sai da cabeça. transpô-lo? penso que deveriam todos ir por lá nadar, ver se assim adquirem o espírito da preservação. enlouqueço no pensamento, esqueço e sigo. oxalá encontre em cartaz algo como Amantes Constantes, Volver ou O céu de Suely. o cinema é um gozo estético que me alivia, me alivia...
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
quando ele estiver longe talvez ela pense pense uma forma qualquer de sentir um toque um cheiro um som. numa rua olhará sua cor seu desenho sua rima na praça no cinema na esquina na padaria comprando suco de laranja para refrescar estes tempos de superaquecimentoglobal e depois, já em casa, que lá pode ousar mais na imaginação, deixar vir sua voz e sua mão até que a saudade se cale na sensação. na distância ainda a possibilidade.