Tem um ovni no meu banheiro
O dia arranha. Passa lento e resmungão, como um disco velho na vitrola. os dias todos, inteiros prostrado no sofá. faz pensar que não há vida, não há mundo além da parede. da janela o céu às vezes cinza, às vezes azul e quando se cansa de céu, cortina. as garrafas secas, era preciso sair para comprar bebida, vontade de encontrar alguém, talvez uma mulher, quem? um livro. acabar o restaurante do fim do universo. no restaurante, as coisas se aproximam cada vez mais do momento após o qual não haveria mais momentos. Sede. um copo de leite, o leite tão branco. aquela vaca. Começa a chover. vai pro chuveiro, liga a torneira, deixa a banheira encher, coisa boa desta casa, sonho de burguês satisfeito. shampoo na água, espuma, deita, fecha os olhos, Ford Prefect e Arthur Dent sorriem de uma mesa, ao lado estão Gabi e um ser cheio de patas e dedos que passa a língua em um dos olhos quando o vê, oi amigos, bom encontrá-los, bate a mão e sente os dedos dormentes, amassados, deformarem-se. abre os olhos, dormiu na banheira, quanto tempo? a água já fria, o corpo já frio, pula da água. uma mosca voa diante de si. voltou com ele do fim do universo. adora corpos nus. Deve ser uma fêmea, uma bela mosca fêmea. devia tomar a forma humana, transmutar-se, faça isso por favor, bela mosca, preciso de gente!, um cigarro, um cigarro, deixa a mosca ali e sai, um cigarro, um cigarro, vai à sala, acende e aspira, paraíso satisfeito,