Ipiranga com Avenida São João. Estou no cruzamento, final de tarde, já noite, carros para a esquerda, carros para a direita, gente em toda direção, Renata me puxando, não entende minha estaticidade, eu preciso parar, refletir aquelas avenidas em mim, a música em mim. Enfim eu no meio da melodia. Quatro esquinas, centenas de construções que lhes seguem, é preciso seguir, não se pode parar ali, assim, e pensar em poesia, melodia, nostalgia, é preciso seguir, deixar escoar o fluxo, eu hesito, fico ali, ainda, olhando as esquinas, tentando apreender o ritmo daquelas ruas, tentando ouvir o violão, a voz, o som, tentando cantar a poesia concreta das tuas esquinas, mas me foge a letra, me foge o ritmo, a cidade me atém além de mim, ela exige-me inteira, engole-me e muda observo o silêncio que me causa o estranhamento, o encontro concreto com o asfalto da canção. Um emaranhado de encontros, mas a exigência do momento não admite aliterações, a cidade dispondo-se de mim em sua deselegância discreta, proibindo divagações. No coração, alguma coisa acontece.