sexta-feira, 21 de abril de 2006


 

É sábado à noite. Eu numa melosa nostalgia do Rio, da bossa nova, sempre nova, mas também sempre velha, porque é preciso sentir saudade para sentir tristeza e compor melodia “deste rio de amor que se perdeu...”

Muitas sensações nestes dias santos no Rio de Janeiro. Urca e a maravilha da Praia Vermelha, perfeita, perfeita, a lembrar a sensação da praia dos Namorados de Guarapari, mas esta apenas como um borrão da perfeição que exala do urbano e natural daquela... nunca o humano em tamanha harmonia com o horizonte... suas ruas e casas e praças e lagoas e mares e gente e sotaque e Ipanema... o mundo que te puxa p’ra fora e é impossível ser introspectivo, há um choque com o belo a cada esquina, há um encontro com o mundo que te abraça e daí, veia que se abre e transborda batimento.

E agora, depois de assistir ‘Coisa mais linda’, ‘Maria Bethânia – música é perfume’ e ‘Vinícius’, aquela doce alegria do lindo que há na melodia e na poesia.

Mas também uma dor fina, aguda, lírica, sussurrada, sensação lacrimejante que se soma ao final de ‘Suíte Havana’ com uma pergunta clássica, mas tão contemporânea, ‘o quê fazer’? Não, não há diferença, é a música e a política... a arte e a vida, o que se quer transformar mas também o que já se é de belo e é preciso ser instantaneamente e para sempre... música... baixinha, rouca, batida, vivida, nascida das curvas do Rio, da arquitetura de Niemayer (museu de arte contemporânea em Niterói: é preciso conhecer!), das cores de Miró (coincidentemente para mim exposta no museu em Niterói), da poesia de Vinícius, do violão de João Gilberto, do feminino em Bethânia...

Rio, cinema, poesia, musicalidade: a emoção do segundo que irradia e extrapola e forma uma linha não-reta, curva, que pula de nota, que se arranha na corda do violão. E a vontade é de não formar uma frase lógica, mas um sentido sentido e não refletido. A reflexão aí já não em espelho plano, mas nas águas do mar: desconexa, navegante, embriagada, boiante, náufraga - assim vai o pensamento, já na terceira taça de vinho... flutuando pela noite e suas possibilidades... a noite em mim, mais do que no céu... as estrelas furando o breu e propondo, pondo além. E o que é possível enxergar para além do clarão do núcleo estrelar? E para viver um grande amor? Projeção, cenário e solidão... para além disso: o piano em suas primeiras notas em “rua Nascimento Silva Cento e Sete”...


segunda-feira, 10 de abril de 2006



BH pulsa frenética na rua e na minha cabeça, às vezes desce leve, faz até frio na barriga de alegria, como se o tobogã da Contorno de repente descesse guela à baixo dentro de mim, mas às vezes é uma melancoliiiia, uma vontade de subir e descer montanha correndo até chegar nas terras planas que de tão planas me confundem a vista num horizonte que vai lonnnnnge, que é também belo mas não mais belo-horizonte. É a minha Bahia...