terça-feira, 21 de março de 2006
domingo, 19 de março de 2006
(O restaurante do fim do universo - Douglas Adams)
domingo, 12 de março de 2006
sexta-feira, 10 de março de 2006
Conhecer uma cidade... andar por suas ruas e ir aos poucos a re-conhecendo: pequeninos trechos, becos, vielas, casebres... a árvore que floriu, a outra que foi amputada, o horizonte de uma determinada perspectiva, a praia de um certo ângulo, o crespúsculo daquela pedra específica, o reflexo de luzes de uma certa janela num ponto do mar... Para conhecer é preciso reviver, criar história, perceber as mutações, saudar o reencontro. O que há de trágico no turismo é que ele não cria laços do ser com o espaço, que é usado numa relação de custo-benefício, de explorador e explorado. Não há retorno nem lembraça do mesmo cheiro, da mesma sombra, da mesma pedra. Somam-se lugares como colecionando figurinhas, deixando para a máquina fotográfica a memória que caberia a si.
Guarapari causou-me aquela sensação leve das paixões inesperadas... aquele torpor suave por não exigir dela nenhuma visão espetacular, por sabê-la equivocamente desinteressante. E assim, com a gratuidade exalando da nossa relação, ela entrou suave, amiga.
A Praia das Virtudes tem o aconchego do quintal de casa, tão minúscula e aglutinadora. Pequeno triângulo composto de prédios nas diagonais, com pracinha ao centro e mar na base. Enseada fechada por pedras que emolduram o azul que segue pequeno e vai se abrindo aos poucos até ser só azul, tudo azul, demais azul e é preciso dançar com olhos em busca de outras cores para que não seja diluída inteira num balde de tinta.
Da Praia das Virtudes seguir pela Rua da Prainha até o cemitério velho. Ali ao lado, as casinhas nostálgicas da rua Francisco de Almeida parecem saídas de livros de estórias infantis. Ao fundo, paredões de janelas causam um contraste futurista perturbador. Ao centro, perdido entre o passado e o futuro, aquele monte de túmulo colorido, com flores alegres e outras murchas, cruzes tortas, azulejos coloridos, cachorros vira-latas, terra vermelha, preta, mexida, piscina de mortos, jazigo dos 'fundadores' de Guara-pari.
Dali, subir a Ladeira Salvador Silva e se deparar com a pracinha da primeira igreja, datada de 1585, garantindo assim a temporalidade medieval e portuguesa tão caracteristica das cidades históricas do Brasil. A praça quase convida-nos a vir morar ali, numa daquelas casas com varandas largas, muros baixos, acesso quase irrestrito, sugerindo uma vida urbana menos murada e familiar, mais comunitária e ruaceira.
Depois de alguns dias ouvindo o mar dia e noite num som tal chuva de temporal, voltar para o dia-a-dia da Praça Sete, vigésimo primeiro andar. Trocar o horizonte em linha reta pelos contornos montanhosos da Serra do Curral, recebendo por sugestão o pôr do sol refletido nas janelas que sobem a Avenida Afonso Pena.
Hora de voltar às Minas Gerais...
Espírito Santo, amém!
quarta-feira, 8 de março de 2006
Da Praça da Liberdade à Praça Sete... De cara deparar-me com profetas esperneantes com bíblias quase engolidas ante o delírio da profecia, filas de aposentados nas portas dos bancos, pedintes com perdas estendidas nas calçadas, engraxates, artistas de rua fazendo-nos rir... gente, gente, gente, gente... multidão de anônimos, assim como eu.
De onde estou, é pular do 21º andar e ser fincada na ponta do obelisco! Vejo a Serra do Curral, a favela do Palmital, formigas no caos do trânsito, buzinas enlouquecedoras num constante pampampam de desmiolar o cérebro, prédios e, faça-se justiça, também um pouco de céu e de nuvens para aliviar a alma...
No final da tarde já não é mais possível ver diretamente o pôr do sol como era na Praça da Liberdade. Hoje, contudo, percebi uma vermelhidão sob a vidraça das dezenas de prédios que sobem a Avenida Afonso Pena. O sol se punha atrás do prédio e eu assistia de forma refletida nas vidraças. O bom de uma experiência é ser capaz de vivenciá-la posteriormente apenas por intuição e senti-la vigorosamente! Do caos urbano, a visão subentendida do horizonte solar...