Rebelde, bandido, indolente, favelado, desviado, insurgente, delinqüente, sublevado, indesejável, transgressor, inadaptado, insubordinado, deslocado, obstinado, louco...
O problema da criminalidade é aquele sobre o qual existe uma verdadeira distorção no campo do saber. No tom dos que se voltam sobre a questão há sempre a nítida tentativa de total imparcialidade sobre o fenômeno estudado. Não uma imparcialidade puramente científica, mas um alheamento totalmente pré-conceituoso e interessado.
Segundo Khum, não existe olhar puramente científico. Há sempre interesse visceral pelas questões sobre as quais nos voltamos. Pior do que o olhar que se assume verdadeiramente interessado no fenômeno é o olhar que, fingindo imparcialidade, se esconde na cientificidade.
Tratar as áreas humanas com este distanciamento ‘pedagógico’ é tão irracional quanto repugnante. E quando se trata, então, do campo da criminalidade, onde o controle penal ainda recai totalmente sobre o povo pobre e negro, torna-se perceptível a reprodução sistemática dos valores opressores, morais, classistas e sectários aos quais os governos, teóricos e aplicadores do ‘direito’ estão, em sua grande maioria, filiados.
O problema da criminalidade não é puramente o problema da criminalidade. O problema da criminalidade é o problema da miséria da maioria avassaladora da população brasileira amalgamada aos maiores índices de desigualdades sociais e econômicas do mundo.
Brilhantemente apregoou João Ricardo Dornelles:
“Enquanto a criminologia conservadora positivista entendia que o desvio provoca o controle social, a criminologia crítica parte da premissa oposta, de que o controle social provoca a conduta desviante, seja através dos processos de criminalização, seja através da determinação prévia das classes subalternas como clientela do sistema penal, apontando o caráter político, ideológico e seletivo dos mecanismos de controle social”.